Talvez a maior expectativa sobre o debate desta quinta-feira, 9, entre os candidatos a presidente fosse sobre Jair Bolsonaro (PSL). Não só por ele liderar as pesquisas, mas porque, afinal, era sua estreia em debates. Ele vinha se mostrando hesitante sobre ir para o enfrentamento com os adversários. No balanço final, houve surpresas e confirmação de aspectos previsíveis.

Bolsonaro com assessores durante um dos intervalos do debate. (Foto: Nelson Almeida/AFP)

De cara, pode-se dizer que, dentro do que se espera dele, Bolsonaro não foi nem um desastre completo nem um sucesso estrondoso. Isso considerando quem ele é e o discurso que faz. Passou longe de mostrar eloquência, desenvoltura. Foi tímido e não se destacou. Mas, pelo menos manteve relativa calma.

Nessa primeira fase da campanha, o mais importante para ele é não perder votos, e provavelmente conseguiu. Salvo para o até então desconhecido Cabo Daciolo (Patriotas) que, daquele jeito, dialogou com eleitorado que é do candidato do PSL.

Ainda assim, eleitores de Bolsonaro devem ter gostado da forma como se saiu quando mais pressionado. Havia dúvida se manteria a calma e isso aconteceu quase todo o tempo. Salvo quando pediu direito de resposta a Ciro, negado com razão, e ficou esbravejando.

Proposta impopular

Afora a calma quase em todo o debate, Bolsonaro apresentou algumas surpresas. Logo em sua primeira intervenção, fez discurso bastante impopular. Reconheceu que diria algo que lhe tiraria votos. É surpreendente e tem lado positivo, que explico adiante.

O capitão do Exército falou aberta e explicitamente da retirada de direitos trabalhistas. Disse que eleitor terá de decidir se quer menos direitos e ter emprego ou todos os direitos e desemprego. Bolsonaro disse ainda que prefere perder voto a ser eleito e não poder governar.

O lado bom nisso é que os governos costumam tomar medidas impopulares, mas nunca dizem isso antes. Nunca informam o que farão, para manter os votos. É realmente ótimo que Bolsonaro diga isso de cara. É uma tese que muitos economistas defendem, muitos outros candidatos que não falam isso, e ele tem direito de dizer.

O eleitor já sabe que ele pretende reduzir direitos trabalhistas. Se, mesmo assim, resolver votar, está sabendo de antemão.

O lado ruim

Se Bolsonaro teve esse mérito, da transparência e sinceridade, foi desolador e assustador ver o quanto seu campo de compreensão é limitado, o quanto é restrita sua capacidade de articulação de raciocínio.

Álvaro Dias (Podemos) perguntou a ele sobre mortalidade infantil e recebeu uma das respostas mais vagas e sem conteúdo da história dos debates políticos. “Sabemos que muitas medidas têm de ser tomadas. A começar por saneamento básico, entre tantas outras”. Hein? Que raio de resposta é essa? Ridícula, infame.

Perguntado por Ciro Gomes (PDT) sobre a qualidade da educação, Bolsonaro falou das escolas militares. De implantar em capitais que não têm. Gente, há ótimos colégios militares, sim. Mas, o assustador é a estreiteza de visão. A incapacidade de enxergar dois passos além do mundinho. De achar que todas as soluções sairão do mesmo lugar. Que coisa desoladora.

About the Author

Érico Firmo

Colunista de Política e editor do O POVO

View All Articles