Governador Camilo Santanta (PT) foi reeleito com 79% dos votos no Ceará (Foto: divulgação)

O segundo turno da eleição presidencial vai impor a Camilo Santana (PT) um engajamento que o governador, dividido entre os palanques de Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT) no primeiro turno, não pode oferecer a nenhum dos dois presidenciáveis.

Desde o início da campanha, o governador cearense manteve-se equidistante, a pretexto de não causar embaraços para Ciro nem se indispor com o próprio partido, que lhe cobrava internamente uma postura mais enérgica favorável ao candidato da sigla.

Essa etapa da peleja ficou para trás e, com ela, o equilibrismo de Camilo.

O Ceará foi o único estado do Brasil onde Jair Bolsonaro (PSL) sequer iria para o segundo turno, que seria decidido entre o presidenciável do PDT, com 40,95% (ou 1.998.597 de votos válidos) da preferência dos cearenses, e Haddad, com 33,12%.

No estado, o militar ficou em terceiro lugar, alcançando 21,74%.

Camilo reelegeu-se governador com 79,96% (3.457.556 de votos). É um capital e tanto, mas como será empregado de agora em diante?

Na disputa presidencial, Haddad venceu em nove estados: oito no Nordeste e no Pará, no Norte.

Bolsonaro foi dominante em 17 estados e no DF. No Nordeste, porém, o desempenho do capitão reformado foi razoável, embalado por uma onda na reta final que quase lhe permitiu liquidar a fatura sem a necessidade de um tira-teima.

Consideradas apenas as capitais nordestinas, por exemplo, Haddad foi bem-sucedido em apenas três: Teresina (PI), Salvador (BA) e São Luís (MA), cujos estados são governados por Wellington Dias (PT), Rui Costa (PT) e Flávio Dino (PCdoB), eleitos ainda no primeiro turno.

Entre eleitores de Fortaleza, Bolsonaro superou Haddad: foram 34,38% dos votos ante 19,31% do ex-prefeito de São Paulo.

Ciro liderou na Capital, com 40,13%.

Levando-se em contas as regiões, o deputado federal pelo Rio foi preponderante no Sul, Sudeste e Centro-Oeste e parte do Norte.

Haddad, apenas no Nordeste.

Daí a responsabilidade de cada governador nordestino. Somados, PT e PSB fizeram a maioria dos gestores nos nove estados.

O partido de Lula ainda foi vitorioso em Alagoas, com Renan Filho (MDB), e no Maranhão, com Dino, dois nomes apoiados pela legenda.

O resultado total das urnas mostra que Haddad não atingiu o teto do potencial de votos lulistas na região.

E é exatamente nesse ponto que começa o trabalho dos chefes de Executivo do NE em geral e o de Camilo, em particular.

Governador mais bem votado do País, o petista comanda um território cuja densidade eleitoral é de 4,31% em relação ao quadro nacional.

Sua participação ativa na campanha de agora em diante é decisiva para converter esse percentual em votos para o correligionário.

Ao lado de Costa, Dino, Dias e Paulo Câmara, reeleito no primeiro turno em Pernambuco, Camilo terá de comandar uma frente de esquerda contra Bolsonaro a fim de barrar o avanço do parlamentar.

O governador fará isso? Os sinais emitidos por seu grupo político ainda são acanhados.

Ontem, por exemplo, embora tenha dito claramente que não apoiará o nome do PSL, Ciro recusou-se a declarar voto em Haddad. Disse que conversaria com aliados antes de tomar qualquer decisão.

O modo como se dará o apoio de Ciro a Haddad, na hipótese de o pedetista de fato assumir um lado nessa corrida, será fundamental para o andamento do segundo turno, etapa que o ex-governador encerrou com 12% dos votos.

Atrás no placar, as dificuldades de Haddad são imensas.

Tem de conter a escalada do capitão da reserva no Norte e minorar os estragos no Sudeste, notadamente no Rio e São Paulo, segundo e primeiro maiores colégios eleitorais.

Enquanto isso, passa a esperar a partir deste momento pelo apoio expresso de ex-adversários, como Ciro, Marina Silva (Rede), Guilherme Boulos (Psol) e mesmo Geraldo Alckmin (PSDB).

Se a intenção do substituto de Lula na briga pelo Planalto é derrotar Bolsonaro, a campanha agora precisa se abrir, tornando-se mais inclusiva para propostas de outros candidatos.

É o único trunfo de que Haddad dispõe para derrotar Bolsonaro, que começa a nova fase das eleições como favorito.

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Henrique Araújo

Jornalista do Núcleo de Política do O POVO

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