Cid e Camilo (Foto: Tatiana Fortes/O POVO)

PDT domina possíveis alianças de Camilo na Assembleia, prefeituras e Senado Federal (Foto: Tatiana Fortes/O POVO)

Setores mais crentes no vigor progressista dos irmãos Cid e Ciro Gomes (PDT) foram tomados de assalto na noite desta segunda-feira, 16, após o mais novo dos irmãos disparar pesadas críticas ao PT e ao ex-presidente Lula em pleno evento petista. “Lula está preso, babaca. Isso é o PT. E o PT desse jeito merece perder. Só pra rimar. Vão perder feio”, disse Cid.

No rescaldo das declarações, o deputado José Guimarães (PT) saiu em defesa do partido e, “lamentando profundamente” ataques do ex-ministro, levantou inclusive a hipótese de rompimento com o grupo político dos Ferreira Gomes no Estado. “Tá na hora mesmo de fazermos um balanço desde 2006 e, se for da separação, que façamos com respeito mútuo”.

Guimarães é uma das principais lideranças do PT no Ceará. Deputado federal reeleito, só vai pensar na própria eleição de novo em 2022. Sabe-se lá qual será o contexto político. Vamos, no entanto, aos fatos: Não existe possibilidade “saudável” de o governador Camilo Santana (PT) acompanhar o PT em uma via de confronto direto com o PDT e os Ferreira Gomes no Ceará.

No último dia 7, pedetistas tiraram quase 30% dos votos para a Assembleia, elegendo 14 deputados – quase um terço da Casa – e ajudando na eleição de mais tantos. Gente que vai votar o que for enviado por Camilo ao Legislativo. Atualmente, o partido concentra quase 30% das prefeituras do Estado. A partir do ano que vem, o governador terá apenas um possível aliado no Senado: Cid Gomes, autor das críticas desta segunda. É a cereja do bolo.

Petista dos menos empolgados, Camilo parece ter mais motivos para, no caso de um rompimento, deixar o atual partido e acompanhar os Ferreira Gomes no PDT do que partir para um confronto direto. Sem a base pedetista, o governador sairia da vitória mais folgada da história para talvez o governo com maior oposição na história. Possibilidade remota.

É aí que reside a ironia da coisa: Se pretende fazer uma real autocrítica como a apontada por Cid, o PT cearense precisa realmente reavaliar a aliança com os Ferreira Gomes no Estado. Deve responder com rigor ímpar, no mínimo, declarações como as de Cid em momento tão delicado.

Teria, no entanto, que abrir mão das facilidades de uma base aliada mansa e um grupo onde sempre cabe mais um. Será que topam o desafio? Camilo dificilmente topa.

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Carlos Mazza

Repórter do núcleo de Conjuntura do O POVO. Jornalismo de dados, reportagens investigativas, bastidores da política cearense. carlosmazza@opovo.com.br / Twitter: @ccmazza

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