A se confirmarem as pesquisas e Jair Bolsonaro (PSL) for mesmo eleito, é previsível debate dentro da centro-esquerda sobre os culpados. A discussão já se ensaia e deve ganhar corpo.

Ciro e o PT

Ciro Gomes durante transmissão ao vivo no sábado. (Foto: reprodução/Facebook)

De um lado, petistas se queixarão de Ciro Gomes (PDT), que se recusou de todas as maneiras a declarar voto em Fernando Haddad (PT) e fazer gesto mais enfático em favor dele e contra Bolsonaro. Na sexta-feira, o petista manifestou esperança de que o apoio trouxesse a ele mais “três ou quatro pontos”. Sem tal posicionamento, parte da eventual derrota será debitada na conta do ex-ministro.

De outro lado, Ciro e o PDT  ficarão profundamente ressentidos com a postura do PT na pré-campanha. Primeiro, em não apoiar Ciro, no lugar de Haddad. O governador cearense Camilo Santana (PT) defendia a tese de longa data e, após o primeiro turno, chegou a dizer que o pedetista poderia ter vencido até no primeiro turno com apoio petista. A tese do ex-governador cearense e de muitos de seus aliados era de que ele seria mais competitivo que Haddad ou qualquer outro candidato do PT, dado o desgaste e a rejeição acumulados pelo partido.

Ciro e o PT

Camilo Santana comandou carreata pró-Haddad, sem os Ferreira Gomes. (Foto: Aurélio Alves/O POVO)

Para além disso, o partido de Ciro não entendeu e não aceitou a atitude do PT de agir para tirar o PSB, que seria o principal aliado pedetista, do palanque de Ciro. Isso em troca de uma neutralidade que esvaziou a candidatura do PDT, sem exatamente favorecer ninguém. Isso deixou sequelas, que explicam em grande parte a postura de Ciro.

Projeto Ciro

Outra parte se explica pela postura algo enigmática de Ciro. “Claro que todo mundo preferia que eu, com meu estilo, tomasse um lado e participasse da campanha. Não quero fazer isso por uma razão muito prática que eu não quero dizer agora. Porque se eu não posso ajudar, atrapalhar é que eu não quero”.

Ele sugeriu, todavia, que essa opção pode ter relação com seu projeto para 2022. Quem sabe, para não se atrelar à eventual derrota e ao desgaste do PT. E para se manter como alternativa de “terceira via”, como nenhum lado nem outro. Desde 1998, Ciro tenta assumir esse papel e até hoje não emplacou. “Tô cumprindo a obrigação que minha consciência me indica. Minha consciência me aponta um caminho em que a população brasileira possa ter uma referência para enfrentar os dias terríveis que, eu imagino, estão se aproximando”, disse ele.

Ex-presidente do PT, Diassis Diniz disse, no sábado mesmo, que a aposta de Ciro de olho em 2022 pode dar errado.

O fato é que a discussão sobre eventuais deslealdades e erros de estratégia começou antes da campanha e poderá se intensificar a partir desta noite, no caso de a derrota encaminhada se consumar.

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Érico Firmo

Colunista de Política e editor do O POVO

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