Após acusação de retirar do ar vídeos veiculados em TV pública sobre ideologias de esquerda e filósofos da mesma orientação política, o Ministério da Educação (MEC) lançou nota, na última quarta-feira, 30, negando a censura e adotando teoria conspiratória para tentar intimidar jornalista.

Na última terça-feira, 29, Ancelmo Góis, colunista do jornal O Globo,  denunciou que vídeos sobre a história de filósofos como Karl Marx, Jean Jacques Rousseau, Friedrich Engels, Antonio Gramsci, Friedrich Nietzche e Marilena Chauí foram retirados do site do Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines). Os programas são divulgados na TV Ines, financiada pelo Governo Federal.

A lista de conteúdos retirados incluía todos aqueles considerados “de esquerda” ou “relacionado à ditadura militar”. Emile Durkheim e Stuart Hall, por exemplo, caíram no primeiro filtro. Já Cacá Diegues (autor de “Bye Bye Brasil”) e Lúcia Murat (do documentário “Uma longa viagem”) foram enquadrados no segundo filtro. Temas como população indígena e negra, feminismo e luta contra a aids também foram retirados do ar.

MEC

O MEC é atualmente chefiado pelo ministro Ricardo Vélez Rodríguez, indicado pelo escritor Olavo de Carvalho. Ambos são críticos ferrenhos do que definem como “marxismo cultural”. Em nota, a instituição se eximiu de ter influenciado na retirada dos conteúdos, informou que eles serão republicados e que a Ines investiga a retirada dos materiais do site. De acordo com a nota, os vídeos teriam sido tirados do site ainda no ano passado, antes da atual gestão tomar posse.

Conspiração

No fim, a nota ataca diretamente o jornalista, acusando-o de ter sido treinado em marxismo e leninismo pelo Partido Comunista Soviético. O texto ainda afirma que o ministro se recusa a “adotar métodos de manipulação da informação, desaparecimento de pessoas e de objetos que eram próprios de organizações como a KGB”, que, segundo o MEC, “protegeu e forneceu identidade falsa para o jornalista”. O Ministério também acusa Góis de ter publicado nota falsa e maldosa.

Provas

O colunista respondeu nesta quinta-feira, 31, as acusações informando e publicando provas de que os vídeos estariam no ar até o último dia 2/1, de acordo com consulta realizada pelo cache do Google, onde é possível acessar versões anteriores da página. Dia 2, Ricardo Vélez Rodríguez já era titular do MEC.

Ainda na quarta-feira, o Ines publicou nota sobre o caso:

“Gostaria de comunicar a todos os envolvidos direta e indiretamente que através dos meios de comunicação e redes sociais tomaram ciência a respeito da remoção de alguns vídeos da TVINES.

O INES tomou conhecimento sobre o fato no final da semana passada e fomos surpreendidos com a notícia. De imediato, na segunda-feira me reuni com a responsável pelo contrato entre o INES e a TVINES para averiguar o ocorrido, sendo que a mesma me informou que também foi surpreendida e que não foi informada sobre as remoções. Por essa razão, encaminhamos o Ofício no 16/2019, em 28/1/2019, à Direção da ACERP, demandando esclarecimentos no prazo de três dias sobre o motivo e a data da retirada desses vídeos.

Aproveito para ressaltar que em nenhum momento nem o INES nem o MEC solicitou a retirada desses vídeos, tampouco fomos informados que os mesmos seriam retirados do ar. O INES e o MEC têm o dever constitucional de respeitar as diferenças e a liberdade de pensamento e expressão. Demandaremos à TV INES providências para que os vídeos voltem ao ar.

Faço um apelo a todos para aguardarem a apuração dos fatos, que será feita por meio de uma sindicância. Assim que tivermos uma posição a respeito, informaremos a todos oficialmente.

PAULO ANDRÉ MARTINS DE BULHÕES
Diretor Geral”