Foi suspenso pela Justiça o passaporte diplomático que o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) concedeu ao líder da Igreja Universal e dono da TV Record, Edir Macedo. A portaria do Ministério das Relações Exteriores, do doutor Ernesto Araújo, foi publicada segunda-feira, 15.

Edir Macedo com a mulher Ester e a filha Vivi. (Foto: Igreja Universal/divulgação)

O bispo Macedo já havia tido passaporte diplomático antes. Concedido pela primeira vez no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Sim, a política externa “ativa e altiva” do doutor Celso Amorim e a política antiestablishment do doutor Araújo se afinam quando o assunto é a Igreja Universal do Reino de Deus. O passaporte diplomático foi renovado em 2011 e 2014, nos governos de Dilma Rousseff (PT). O documento expirou em janeiro de 2017 e não foi renovado no governo Michel Temer (MDB).

A Justiça suspendeu o concedido por Bolsonaro, mas não o emitido na época de Lula e Dilma. A Justiça age quando provocada. Desconheço que tenha sido antes.

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Quem pode ter passaporte diplomático

Passaporte diplomático é destinado a: diplomatas (não é?) em atividade ou aposentados, desde oficiais de Chancelaria a vice-cônsules em exercício; presidente, vice-presidente, ex-presidente da República; ministros, ocupantes de cargos de natureza especial, titulares de secretarias vinculadas à Presidência; governadores; correios diplomáticos; adidos credenciados pelo Ministério das Relações Exteriores; militares em missões de organismos internacionais, a critério do Ministério das Relações Exteriores; chefes de missões diplomáticas especiais e chefes de delegações em reuniões de caráter diplomático, uma vez designados em decreto; deputados federais e senadores; ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União; procurador-geral da República e subprocuradores-gerais; juízes brasileiros em Tribunais Internacionais Judiciais ou Tribunais Internacionais Arbitrais.

Bispo Macedo não é nada disso. O que abre brecha para a concessão é o artigo 6º da portaria: “Mediante autorização do Ministro de Estado das Relações Exteriores, conceder-se-á passaporte diplomático às pessoas que, embora não relacionadas nos incisos deste artigo, devam portá-lo em função do interesse do País”.

O interesse do País nas viagens do Bispo Macedo eu não sei. O interesse de Lula, Dilma e Bolsonaro eu sei: a Igreja Universal tem sido uma aliada política dos governos de plantão. Foi assim com Lula e é com Bolsonaro, sem constrangimento da guinada ideológica. Não tem culpa que os governos mudam.

Além disso, a Record é uma poderosa máquina midiática, que ajudou os governos de ontem e ajuda o de hoje.

Lula e Dilma erraram e Bolsonaro incorre no mesmo erro. Pelos mesmos motivos. Velha e má política. Vulga politicagem.

Para que serve passaporte diplomático

Passaporte diplomático serve para o seguinte: privilégio. Chega a ter guichês específicos na migração em aeroportos, não pega as mesmas filas. Esta bestagem toda é para furar fila. Tem também privilégio no despacho de bagagem. Há países que dispensam visto para detentores.

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Érico Firmo

Colunista de Política e editor do O POVO

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