Professor Custódio Almeida, ex-vice reitor da UFC (Foto: Chico Alencar/O POVO)

Ex-vice-reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Custódio Almeida comenta a escolha do novo dirigente da instituição, Cândido Albuquerque, divulgada na última segunda-feira, 19.

Em entrevista ao O POVO, o professor de Filosofia, primeiro na lista tríplice encaminhada ao Ministério da Educação, relata encontro com Abraham Weintraub e Onyx Lorenzoni (Casa Civil) para se apresentar e tratar sobre o processo de escolha do sucessor de Henry Campos.

Custódio diz que saiu dessas conversas, nas quais foi chamado de reitor, convencido de que seria nomeado.

Agora ex-diretor da Faculdade de Direito da UFC, Albuquerque tomou posse como reitor nesta quinta-feira, 22, em Brasília.

O POVO – Como recebeu o resultado da nomeação para reitor da UFC?

Custódio Almeida – Eu recebi o resultado com grande tristeza e certa dose de indignação, porque tenho a compreensão de que universidade é uma instituição coletiva, cujo trabalho só tem frutos se for feito em conjunto. Decisões monocráticas e autoritárias não se revertem em favor da universidade, da pesquisa e da extensão. Como instituição coletiva marcada pelo trabalho cooperativo, uma decisão dessas é um desastre.

OP – Para o senhor, o que pesou contra o seu nome?

Custódio – Vou responder de outra maneira. Não há objetivamente nada que me desabone para ser dirigente da UFC diante do meu histórico acadêmico e técnico. Nunca houve contra mim processos administrativos. Cheguei ao topo da carreira fazendo ensino, pesquisa e extensão. Foi uma indicação proposta pela universidade, legítima.

OP – Quais critérios acha que definiram a escolha, então?

Custódio – Os critérios levados não foram critérios republicanos, objetivos, técnicos e acadêmicos. Se não foram esses, talvez critérios ideológicos, subjetivos, das mais diversas estirpes.

OP – Foi uma decisão política?

Custódio – Houve forte movimentação política em Brasília do candidato escolhido. Eu fiz movimentações porque me senti legitimado pra ir a Brasília, conversar com ministro, porque estava credenciado. O outro candidato também fez isso, e isso foi um elemento que preponderou.

OP – O senhor chegou a conversar com que ministros?

Custódio – Eu fui recebido pelos ministros Onyx (Casa Civil) e Weintraub (Educação). Foram visitas para me apresentar como candidato referendado como primeiro da lista. Falei da minha trajetória, me coloquei à disposição da educação brasileira para contribuir para o desenvolvimento do país dentro daquilo que é a missão da UFC.

OP – Os ministros foram receptivos?

Custódio – Eu me senti acolhido nessas visitas. Infelizmente, temos um terceiro turno de eleição para reitor, porque você ainda precisa se mostrar capaz na articulação. Mas eu fiz sem arredar um milímetro dos princípios que defendo.

OP – Saiu dessas conversas confiante de que seria escolhido?

Custódio – Eu saí dessas visitas com a voz dos ministros dizendo pra mim (que seria reitor). O Onyx (Lorenzoni) chegou a me chamar de reitor. Enquanto o ministro da Educação acolheu (meu nome). Na primeira visita que fiz, o Weintraub encaminhou minha nomeação ao assessor especial. Pediu para que ele buscasse o processo e procedesse à minha nomeação. Depois fiz uma segunda visita, mas para “limpar” uma imagem ideológica ruim.

OP – Limpar?

Custódio – Sim. Soube que foram plantadas no MEC várias informações de que eu era um incendiário na UFC, com histórico de filiações. Nunca fui filiado a nenhum partido. Tive uma vida muito engajada ao lado dos movimentos de emancipação humana. Falei tudo isso ao ministro da Educação. Ele ouviu tudo e disse: se não tem nada grande, não tem processo, não vejo problema na sua nomeação. Saí de lá convencido de que seria nomeado reitor. Inclusive, na hora, fui solicitado a acompanhar o assessor (coronel Paulo Roberto) para ver qualquer necessidade que havia de nomeação.

OP – Considera que esteve em vias de ser nomeado?

Custódio – Se eu considerar o que o ministro da Educação disse e como fui recebido na Casa Civil, estive em vias de ser nomeado, sim.

OP – O que mudou no entendimento dos ministros?

Custódio – Esses motivos da mudança me são obscuros. Não é da ordem republicana, não é legal.

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Henrique Araújo

Jornalista do Núcleo de Política do O POVO

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