Alimentos de fora têm sido bastante procurados em detrimento dos insumos regionais. Veja alguns produtos da região que deveriam estar no prato do cearense

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Jaca, murici, buriti, araruta, inhame aéreo. O que eles têm em comum? A pouca valorização e presença no prato e na cozinha do cearense. A baixa procura por esses alimentos faz com que eles se tornem cada vez menos conhecidos pelas novas gerações. A onda de gourmetização ocorrida nos últimos anos fez os insumos regionais darem lugar aos produtos caros e de outras regiões e teve como consequência a desvalorização do que é produzido na terra.

Para Nilza Mendonça, instrutora da Gastronomia do Senac/CE e pesquisadora do Saberes e
Sabores — projeto da instituição que tem o objetivo de valorizar a culinária e os alimentos
regionais — é importante resgatar os produtos que não chegam mais na mesa do cearense eque são desconhecidos para alguns. “Quase ninguém sabe o que é o buriti. O aproveitamento da jaca é muito pequeno. Com as novas descobertas do que você pode fazer com a jaca, ela está ficando um pouco mais conhecida, mas não se vê nas casas de suco, por exemplo. O murici está sumindo aos poucos”, afirma.

A professora aponta como causa desse fenômeno a substituição dos produtos locais por
aqueles que não são da região. “Não se vê uma geleia de manga, goiaba, mamão, um doce de banana e nem de caju. São coisas que vêm sendo substituídas pela maçã, pera, kiwi, uva, produtos que nós temos atualmente no Brasil, mas que não são da nossa origem”, explica.

Sobre a gourmetização, a pesquisadora afirma não ser contra, mas que poderia ser realizada de outra maneira. “A gente tem que se modernizar. Eu posso gourmetizar, por exemplo, meu doce com os nossos produtos e não só com o que é caro e de fora. Vamos gourmetizar também a manga, a jaca, o mandacaru, o caju.” Para a pesquisadora, outros produtos que deveriam estar mais presentes nas cozinhas da região são o abacate, o inhame aéreo, a macaxeira— que, conforme explica Nilza, é aproveitada majoritariamente para produzir a goma da tapioca — milho, araruta, abóbora, coco-babão, jambo, azeitona preta e fruta-pão.

Razões para escrever o livro
Nilza Mendonça é autora do livro “Em Busca dos Sabores Perdidos”, da editora Senac, onde resgata ingredientes pouco valorizados e os transforma em receitas. “Durante 10 anos, viajei na unidade móvel do Senac e vi muita coisa que servia como alimento e não era utilizado. Então, eu pegava esse produto e desenvolvia as receitas. Foi a procura e a não presença desses alimentos na nossa mesa [que motivou o livro]”, afirma. A obra conta com 244 páginas e tem como valor sugerido R$ 135. “Em Busca dos Sabores Perdidos” pode ser adquirido pelo
endereço bit.ly/2HY3pL8.