Comunidades cearenses encontram em projeto uma oportunidade de perpetuação de hábitos e costumes ancestrais. O “Encontro Sesc Herança Nativa” acontece gratuitamente até o próximo domingo, 26

                        Foto: Divulgação


Promovido pelo sistema Fecomércio/CE, por meio do Serviço Social do Comércio do Ceará (Sesc/CE), o projeto vem ajudando na perpetuação da identidade sociocultural de milhares de comunidades residentes nos aproximados 570 quilômetros de litoral cearense. Como desdobramento do “Encontro Sesc Povos do Mar”, iniciado nesta quarta, 22, e que segue até o próximo domingo, 26, no Sesc Iparana – Hotel Ecológica, surgiu o projeto “Encontro Sesc Herança Nativa”. Este ano em sua quarta edição, o momento alinha-se às bases do projeto “Povos do Mar”. Dança, música, oficinas de cultivo, entre outras atividades, podem ser conferidas no evento, também a se encerrar no próximo domingo.

O “Herança Nativa”, como é mais conhecido, teve início com uma articulação entre o Sesc/CE e as comunidades Jenipapo-Kanindé, Tapeba, Anacés e Tremembés, de Almofala. Em seu sexto ano, o projeto de atividades continuadas o ano inteiro, promove, durante o encontro, o intercâmbio entre visitantes e comunidades. Pelo povo Tremembé da cidade de Itarema, litoral oeste do Estado, o cacique João Venâncio explica que seu grupo realiza durante o momento de socialização o ritual sagrado denominado torém.

Integrante da mesma etnia, o pajé Luiz Caboco defende que o “Herança Nativa” é uma iniciativa bastante positiva quando se fala de fortalecimento da cultura indígena no Ceará. “O projeto ajuda a preservar muitas coisas porque lá vão ter palestras, debates e isso é um sentido de não se esquecer da própria cultura. Para manter vivas nossas tradições, celebrar nossa cultura, relacionar com referência os fatos, e usar nossa dança sagrada e nossa bebida sagrada, o mocororó, que são os que mais necessitam de preservação”, conta o líder.

Margarida Tapeba, da aldeia Lagoa dos Tapebas, em Caucaia, diz que a possibilidade de encontro com os povos irmãos do Ceará gera alegria entre os povos originários cearenses. “Representa proteção às tradições porque somos nós quem fazemos o evento. Nós que estamos lá ministrando oficinas, palestras, mostrando pintura corporal, nossas tintas naturais, nossas vivências. Então, fortalece [a cultura] e garante esse encontro anual de 14 povos, gerando intercâmbio. Tentamos de alguma forma não ser engolidos pela sociedade do entorno. Muitas pessoas que não nos conhecem e não nos respeitam passam até a conhecer e a respeitar.”

Costumes quilombolas

Conhecida como Cristina Quilombola, Cristina Sousa também enxerga no “Herança Nativa” a oportunidade de preservação da cultura de seu povo – as comunidades quilombolas que residem em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Presidente da Associação dos Remanescentes do Quilombo dos Caetanos em Capuan (ARQCCC-CE), ela defende que a principal valorização experimentada na iniciativa do Sesc/CE é o reconhecimento interno, em seu próprio município, da existência dessas comunidades tradicionais.

“O Sesc está indo, com esse projeto, junto às comunidades tradicionais, valorizando nossos costumes. É fortalecedor para nós, mas também para nosso município, saber que existe esse reconhecimento de que há comunidades tradicionais em Caucaia”, defende. Cristina Quilombola conta que sua comunidade participa desde 2015 do ‘Encontro Sesc Povos do Mar’ e que este ano, pela primeira vez, estará no ‘Herança Nativa’. “A partir dessa aproximação com o Sesc, tivemos que construir mais ainda nossa cultura, procurando essa unidade em conjunto com mais comunidades. São várias etnias em um encontro só. Tivemos essa aproximação, nossos diálogos, reuniões, para que tudo seja uma construção produtiva e realizadora para todos nós. A gente vem tendo esse diálogo aberto todo ano para participar do evento.” Até a participação feminina na comunidade sofreu alteração por conta do projeto, analisa.

I Encontro Sesc de Loiceiras no Ceará
No Herança Nativa 2018, o Sesc/CE inova e promove o “I Encontro Sesc de Loiceiras no Ceará”. A iniciativa tem por objetivo promover essa cultura em um universo onde o alumínio assumiu o mercado de panelas. Oito comunidades cearenses devem participar do evento. O nome ‘loiça’ vem do português utilizado no Brasil colonial. Apesar do estranhamento do termo, ‘loiça’ ou louça estão corretos no português atual.

A produção loiceira oferece vários benefícios às comunidades produtoras, seja como geração de renda, preservação da cultura local, segurança alimentar. As panelas produzidas a partir do barro não oferecem os mesmos riscos à saúde como acontece com o alumínio. Sua produção causa ainda baixo impacto ambiental, já que se utiliza apenas de materiais disponíveis em abundância na natureza, como terra, ar e fogo.

Dona Vanusa Emídio produz peças de louça no distrito Sítio Tope, em Viçosa do Ceará. A produção de sua comunidade é comercializada por encomenda ou na Central de Artesanato Luiza Távora (Cearte), em Fortaleza. As poucas vendas na feira de sua cidade são insuficientes diante do trabalho de transportá-las, explica. A participação no I Encontro Sesc de Loiceiras será uma oportunidade de atingir novos públicos, acredita a artesã. “No evento, vamos poder ser mais vistos, divulgado. É importante conhecer novas pessoas, contatos para venda. Estamos com boa expectativa.”

Serviço
“Encontro Sesc Herança Nativa”
Onde: Sesc Iparana – Hotel ecológico (av. José Alencar, 150 – Praia de Iparana – Caucaia)
Quando: até 26 de agosto de 2018
Mais informações: bit.ly/2PkAAvQ

Programação completa: bit.ly/2wfYNuB
*Acesso gratuito