Homem idoso toca uma flauta de madeira. Ao fundo, um tambor com os dizeres "Crato" e "Ceará".

Um dos integrantes mais antigos da Cabaçal dos Irmãos Aniceto agora recebe visitantes em sua casa. (Foto: Augusto Pessoa)

Ao todo, 16 mestres da cultura do Cariri serão homenageados pelo Sesc e Fundação Casa Grande

Dentro da programação do I Seminário Internacional do Patrimônio da Chapada do Araripe, que acontece de 6 a 9 de agosto, serão inaugurados mais dois espaços de memória, que integram o projeto “Museus Orgânicos”, proposto pelo Sistema Fecomércio Ceará, por meio do Serviço Social do Comércio do Ceará (Sesc/CE), e pela Fundação Casa Grande de Nova Olinda.

Nesta terça-feira, às 15 horas, no Crato, será inaugurado o museu orgânico do Mestre Raimundo Aniceto, de 85 anos, integrante da centenária “Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto”. Sua casa será aberta à visitação e preservará a história do grupo e os instrumentos artesanais.

Da esquina da rua Dr. Manuel Macêdo, no bairro Seminário, em Crato, é possível ver de longe um senhor com camisa azul e chapéu preto sentado em uma cadeira de macarrão na frente a uma casa verde. Aos 85 anos, o Mestre Raimundo fica na calçada de casa quase todos os dias para observar o movimento da rua.

Na sala, uma estante de vidro se destaca na composição dos quadros de fotos dos filhos e de uma viagem da Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto para o Rio de Janeiro. A peça no meio da memória familiar faz parte de um suporte de um dos espaços do Museu Orgânico que exibirá a trajetória do grupo cultural da região.

Fotografias de cerca de um metro, pifes da dança e taças de premiações irão elencar a organicidade do museu pelo percurso do afeto, “Eu percebo que é importante, meu pai é um Mestre e vai contar a história dele. Ele realmente vai ser reconhecido como Mestre”, diz Socorro Silva, 49, filha mais velha do Mestre.

“Raimundo era meninote, menino quando começou”, diz a matriarca da casa, Dona Raimunda, companheiro do Mestre, com as mãos na cintura e as sobrancelhas franzidas. Infelizmente, após um AVC que ocorreu há três anos, o Mestre Raimundo apresenta dificuldades na fala e complementa a fala da esposa com acenos e gestos.

Conheça a rota dos museus orgânicos e a história dos mestres

A lembrança de Dona Raimunda vai até aos 12 anos do Mestre, quando ele começou a brincar na dança que envolve instrumentos e passos influenciados pela cultura indígena dos índios Kariris, os primeiros habitantes da região do Cariri cearense. Hoje, são seis homens no grupo, todos com laços sanguíneos e culturais. Dois deles se chamam Cícero, e os outros atendem por Joval e Adriano.

Todos os instrumentos utilizados na performance dos Aniceto são fabricados pelas mãos dos próprios dançarinos. Os pifes são feitos de taboca e a zabumba fabricada com timbaúba e couro de bode. Os meninos que se interessam pela dança só não produzem a zabumba, pois essa atividade artesanal era própria do Mestre Raimundo, cabendo apenas para os mais novos a produção de outros instrumentos.

Após uma pausa, o Mestre gesticula durante alguns minutos. Com um anel preto no dedo indicador esquerdo, ele fecha a mão em punho e encosta no peito. Aponta para Dona Raimunda e, quase sem pronunciar uma palavra, ela traduz o que ele está dizendo. As palavras gesticuladas são terreirada, dança e cultura. O corpo fala e, naquele momento, os pés do Mestre Raimundo Aniceto elaboraram um passo da Banda Cabaçal na hora de se despedir.

Serviço
Museu Casa do Mestre Raimundo Aniceto – Crato
Onde: Rua Dr. Manuel Macêdo, bairro Seminário

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