O escritor, Márcio Benjamin, de camisa branca e calça jeans, senta ao lado do autor Zé Wellington, de camisa bege e calça jeans

Márcio Benjamin (à direita), ao lado do também escritor Zé Wellington, conversa sobre literatura nordestina de terror (Foto: Stephanie Costa)

O escritor Márcio Benjamin, um dos destaques da Bienal do Livro 2019, fala sobre como o sertão serve de inspiração para histórias de suspense e terror

Histórias de terror no Sertão? Temos! E foi justamente esse tema que Márcio Benjamin abordou no último sábado (17), durante a Bienal Internacional do Livro do Ceará. Ao lado do também escritor Zé Wellington, ele participou, no espaço Café Literário, do bate-papo “Imagens e Visagens do Sertão”. Após a conversa, que integra a programação do Sesc Ceará no evento, o escritor, que esteve no Ceará em julho, trocou uma ideia com a gente. Confira a entrevista a seguir.

Como é retornar ao Ceará?

É um prazer estar aqui novamente! Existe uma relação de carinho, respeito e cuidado do Sesc pela figura do artista muito bacana. Estive na Mostra Sesc de Cultura do Sertão Central em julho e agora estou de volta, para falar sobre literatura de terror, causos, zumbis e muito mais.

E como se dá essa relação entre escrita, terror e o Nordeste?

Gosto de brincar dizendo que o escritor de terror tem que sair do armário, ou melhor, da tumba. O escritor de terror deve ser assumir como tal. No caso, eu trabalho com temas nordestinos. Meu primeiro livro lançado foi o “Maldito Sertão”, de 2012, que aborda o folclore sob o ponto de vista do suspense. Isso porque o folclore costuma ser visto muitas vezes como algo infantil ou acadêmico. Ou é Maurício de Sousa ou é Câmara Cascudo. O trabalho deles é incrível, mas meu foco é diferente.

E como você caracteriza o terror nordestino?

Quando se pensa em terror, é bom a gente se distanciar desse conceito clássico, hollywoodiano, porque, aqui, o terror faz parte da nossa cultura como causo, como lenda. Mas acredito que essa cultura também pode evoluir. Apesar de ser um livro que fala sobre sertão, o Fome, por exemplo, fala sobre zumbis, mas sem deixar de ser uma obra essencialmente nordestina, com uma linguagem bem nossa. Quis, assim, trazer a oralidade para o papel.

Quais os autores que você se inspira?

Você não vai acreditar, mas, para mim, nos meus livros tem Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu, Gabriel Garcia Marquez e por aí vai. As pessoas costumam pensar no terror sempre associado com a assombração, mas não. Todos esses escritores me ensinaram alguma coisa e é isso que eu tento trazer nas minhas obras. Ariano Suassuna, Raquel de Queiroz, José Lins do Rêgo, Marcelino Freire, toda essa turma do Nordeste me inspira muito.

Que conselho você daria, tanto para os leitores quanto para jovens escritores que desejam se dedicar ao terror?

Primeiro: leia! Leia como se a sua vida dependesse disso – e depende! Se você for um leitor você também vai ser uma pessoa livre. Mesmo que não venha a se tornar o escritor, a leitura vai mudar a sua vida, abrir a sua cabeça. É importante ainda quebrar dois paradigmas, como o brasileiro não gosta de ler. Isso é mentira. E o segundo paradigma: livros são caros. Alguns são, mas não todos. Vejo um número cada vez maior de pessoas que querem consumir livros.

Cultura

Durante os 10 dias da Bienal Internacional do Livro do Ceará, tanto o Sesc quanto o Senac vão realizar uma série de atividades para o público de todas as idades, tendo como norte o grande tema desta edição, que é “As Cidades e Os Livros”. Mediações, oficinas, rodas de conversa, saraus e contação de histórias estão entre as ações idealizadas pelo Sistema Fecomércio. Programação completa e mais informações disponíveis no site do Sistema: https://bit.ly/31MtUw7