O uso excessivo das redes sociais pode ser decisivo para o desenvolvimento de doenças como a depressão, afirma psicóloga (Foto: Divulgação)

O mês do Setembro Amarelo, voltado à conscientização sobre saúde mental e prevenção do suicídio, evidencia a importância de debater o tema à luz da ciência, sem preconceitos

Ainda atravessada por estigmas e falta de informação, a saúde mental representa ampla dimensão da nossa condição de bem-estar. Assim como a saúde física, ela é diretamente afetada por fatores biológicos, genéticos e sociais. Alterações constantes ou desproporcionais de humor – a exemplo de tristeza profunda, ansiedade ou um estado contínuo de melancolia – não devem ser taxados de afetação. Ao contrário, são manifestações importantes que podem sinalizar problemas sérios como depressão.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), até 2020 a depressão será a doença mais incapacitante do planeta. Frente a essa perspectiva alarmante, e como parte de uma política de conscientização, foi criada no Brasil a campanha do Setembro Amarelo, voltada à prevenção do suicídio, consequência mais grave da depressão e ainda tratado como tabu.

Iniciada em 2015, a campanha é uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Ao longo do mês, instituições públicas e privadas, escolas, universidades e organizações civis de todo o País engajam-se no movimento, promovendo ou participando de ações que ajudam a difundir informação sobre o tema.

“Quebrar o tabu em torno da depressão e do suicídio implica deixar de abordar o assunto de maneira velada, como algo a ser conversado abertamente”, avalia Telma Fernandes, psicóloga clínica do núcleo Sesc Saúde. ”Quanto mais se falar, mais será possível difundir informações e conscientizar sobre a importância de buscar ajuda”, completa.

Telma ressalta que a depressão pode se manifestar a partir de diferentes sintomas e intensidades – ou seja, não inclui apenas o quadro mais conhecido de reclusão social e tristeza aguda. Pode incluir irritabilidade, falta de apetite ou, ao contrário, consumo descontrolado de comida; insônia ou sono em excesso. Outros sintomas são mais comuns, a exemplo da baixa autoestima e perda de interesse por atividades e hobbies antes valorizados pelo paciente. Em casos mais severos pode haver pensamentos de morte.

“Com relação à tristeza, na depressão ela se manifesta de forma profunda e, muitas vezes, sem motivo específico. Diferente do sentimento de tristeza comum, ela afeta a produtividade do indivíduo e todas as instâncias de sua vida: profissional, amorosa, familiar”, esclarece. Telma.

Perigo nas redes
Além de fatores genéticos e biológicos, a situação social do indivíduo pode ser decisiva para o desenvolvimento de doenças como a depressão. Nessas condições, algumas experiências podem ser gatilho para o surgimento do quadro. “Sobrecarga mental e stress, perdas afetivas e separações, solidão, uso abusivo de álcool e drogas, doenças crônicas e pós-parto são exemplos”, pontua Telma.

No cenário atual, a psicóloga alerta ainda para um hábito pouco reconhecida como gatilho: o uso excessivo das redes sociais. “Alguns estudiosos relatam a ‘comparação social’ gerada pelas redes, quando o indivíduo visualiza falsas expressões de felicidade e as encara como se fossem regra”, esclarece.

Com o tempo, o usuário passa a acreditar que todas aquelas pessoas são felizes o tempo inteiro e têm uma vida repleta de satisfação – menos ela. “Isso pode gerar sentimentos de inveja, frustração e revolta”, pontua, além de ansiedade pela constante busca por aprovação, na tentativa de se parecer um igual.

Nesse contexto, e dentro da sua missão de promover o bem-estar e a qualidade de vida, o Sesc, instituição que integra o Sistema Fecomércio-CE, realiza nos dias 17 e 18 de setembro, em Fortaleza, o seminário “A influência das mídias sociais e a saúde”. A programação contará com oficinas e palestras que acontecem na unidade Sesc Fortaleza e Unifametro – Campus Conselheira Estelita. As inscrições estão abertas pelo formulário disponível no formulário eletrônico e cada inscrito pode optar por até duas atividades.

Telma frisa a importância de buscar ajuda profissional. “O diagnóstico realizado pelo psiquiatra e o acompanhamento com o tratamento medicamentoso deve ser buscado o mais rápido possível”, sublinha. “O paciente deve tomar a medicação conforme orientação médica sem interromper ou abandonar o uso por conta própria. Aliado a isso, a psicoterapia exerce um papel fundamental, pois atua no processo da reorganização dos pensamento e sentimentos, trabalhando as causas do seu quadro de sofrimento”.