Creio que, sob o ponto de vista biológico, a vida humana é quase como um poema. Tem seu ritmo e sua cadência, seus ciclos internos de ascensão e declínio.
Lin Yutang
[A Importância de Viver. Trad. Mário Quintana. São Paulo: Globo, 1997, p. 27]

Provavelmente Lin Yutang não é um dos pensadores orientais mais conhecidos no Brasil. Caso essa hipótese se confirme, só tenho a lamentar. Lin Yutang é um dos melhores pensadores que tive algum dia oportunidade de ler. Desde que li a primeira fase de seu livro A IMPORTÂNCIA DE VIVER, não o larguei mais, tornando-se uma daquelas obras às quais tenho retornado com frequência. Detentor de uma sabedoria ímpar, esse pensador chinês alia a abordagem filosófica a temas os mais comezinhos. Para se ter uma idéia do que afirmo, basta verificar os títulos de alguns capítulos do livro mencionado: “O vagabundo como ideal”, “A vida humana como poema”, “O culto da vida ociosa”, “Envelhecer graciosamente”, “Da arte de estar deitado”, “O gozo de viajar”, “Da arte de sentar nas cadeiras” etc.
Nascido em Chang-Chow, na ilha chinesa de Amoy, em 1895, Lin Yutang estudou em Xangai e nas universidades de Harvard e Leipzig, graduando-se em 1932. De regresso ao seu país, dedicou-se ao magistério e ao jornalismo. Em 1936 emigrou para os Estados Unidos. Lin Yutang faleceu em Hong Kong em 1976.
Encanta-me no pensamento de Lin Yutang o seu senso de proporção, de justa medida, de ponderação, condições para o perfeito equilíbrio entre o humano e o divino, entre a matéria e o espírito. Tal senso de proporção se traduz, por exemplo, nas considerações tecidas pelo autor a respeito da terra e do corpo, posto que é na terra e no corpo que experimentamos a existência.
A propósito do corpo, afirma:
“Toda boa filosofia prática deve começar com o reconhecimento de que temos um corpo”.
E quanto à terra, diz:
“Às vezes ficamos demasiado ambiciosos e desdenhamos a terra humilde, mas generosa. Mas devemos ter um sentimento para com esta Mãe Terra, um sentimento de verdadeiro afeto e apego a esta moradia temporal de nosso corpo e nosso espírito, se aspiramos possuir o senso da harmonia espiritual”.
Para concluir, quero deixar uma afirmação de Lin Yutang que resume de forma brilhante sua perspectiva filosófica:
“A filosofia, em geral, parece a ciência de fazer com que as coisas simples se tornem quase incompreensíveis, mas posso conceber uma filosofia que seja a ciência de tornar simples as coisas difíceis”.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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