Tudo sofro para que seus corações sejam reconfortados e que, estreitamente unidos pela caridade, sejam enriquecidos da plenitude de inteligência, para conhecerem o mistério de Deus, Cristo, no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e ciência.

Cl 2,2-3

Os místicos carmelitas sempre exerceram sobre mim um fascínio todo especial,  particularmente São João da Cruz (1542-1591) e Santa Teresa de Jesus (1515-1582), ou Santa Teresa d’Ávila, como é mais conhecida a Santa espanhola. Seus escritos têm consumido um bom percentual das minhas horas de leitura ao longo de mais de vinte anos.

Aos textos destes dois grandes expoentes da Igreja Católica tenho retornado sempre com renovada alegria e emoção, pois é certo que novas nuances sempre me são reveladas cada vez que me debruço sobre algum de seus muitos e inspirados escritos.

Devo especialmente a São João da Cruz a decisão tomada há algum tempo – e, desde então, levada muito a sério – de reservar uma parte das minhas horas de leitura para me dedicar ao estudo dos mistérios cristãos, cujo epítome encerra-se no nascimento, paixão, morte e ressurreição de Cristo.

Tomei essa decisão quando da leitura de um trecho de um dos livros mais conhecidos de São João da Cruz, Subida do Monte Carmelo, no qual o Doutor Místico, inspirado na Carta de São Paulo aos Colossenses, afirma:

“Queres saber algumas coisas ou acontecimentos ocultos? Põe os olhos só em Cristo e acharás mistérios ocultíssimos e tesouros de sabedoria e grandezas divinas nele encerrados, segundo o testemunho do Apóstolo: ‘Nele estão encerrados os tesouros da sabedoria e da ciência'(Cl 2,3). Esses tesouros da sabedoria ser-te-ão muito mais admiráveis, saborosos e úteis que tudo quanto desejarias conhecer. Assim glorificava-se o mesmo Apóstolo quando dizia: Porque julguei não saber coisa alguma entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado (1Cor 2,2). Enfim, se for de teu desejo ter outras visões ou revelações divinas, ou corporais, contempla meu Filho humano e acharás mais do que pensas, conforme disse também S. Paulo: ‘Porque nele habita toda a plenitude da divindade corporalmente’ (Cl 2,9)”. [Subida do Monte Carmelo, Livro II, Cap. XXII, 6, p. 282. Obras Completas de São João da Cruz. Petrópolis: Vozes, 1984].

As palavras de São João da Cruz estavam fadadas a produzir mudanças em mim. Foi algo assim como um lampejo, um raio de luz muito forte que me tocou de forma indelével, produzindo mudanças muito maiores do que eu poderia inicialmente supor. Penso que foi uma semente que caiu num solo bastante fértil, pois encontrou todas as condições necessárias à germinação: o momento que eu estava atravessando era absolutamente propício, devido a uma série de fatores.

Passei um período relendo diariamente tanto o que fora escrito por São João da Cruz quanto a Carta de São Paulo aos Colossenses. Esse período fez correr muita tinta nas páginas do meu Diário do Caminho. A decisão, tomada já no momento em que li o trecho de “Subida do Monte Carmelo”, foi se consolidando aos poucos, mas com uma solidez que me fazia perceber não ser possível retroceder. Eu fora agraciado, simultaneamente, com um propósito e uma promessa.

Desde então, minhas incursões pelos meandros dos mistérios contidos em Cristo e sua mensagem têm me levado sempre a novas e emocionantes descobertas que, por sua vez, sempre precipitam novas indagações.

Em consonância com a sugestão de São João da Cruz, por sua vez inspirado em São Paulo, penso que o estudo de Cristo seja, de fato, uma das maiores aventuras a que alguém possa se lançar. Não me restam dúvidas:  Nele está realmente contida toda ciência e o mais alto saber a que alguém possa aspirar.

Por fim, quero registrar que foi o trecho citado dos escritos de São João da Cruz a minha fonte de inspiração para dedicar a postagem das quintas-feiras, neste blog, aos Mistérios Luminosos. Reservei especialmente para esta quinta-feira, 16 de julho, este relato, em virtude de hoje a Igreja comemorar o dia de Nossa Senhora do Carmo, a grande protetora dos carmelitas, cujo escapulário uso com muita reverência e devoção.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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