Eis, o desejado das nações está fora e bate à porta. Se, por tua indolência, devesse ele passar adiante, tu começarias de novo a procurar aquele que tua alma ama! Levanta, corre, abre. Levanta por fé; corre por devoção; abre por confissão. Eu, responde, sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,38).

São Bernardo de Claraval

[Oratio de IV de B.M.V. Citado em: SGARBOSSA, Mario. Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente: com uma antologia de escritos espirituais. Tradução Armando Braio Ara. – São Paulo: Paulinas, 2003, p. 176.]

Ter ou não um mestre, o que implica em, dependendo de quem seja o mestre, adotar ou não um credo religioso, é uma questão que tem me ocupado há anos. Essa nem sempre é uma questão fácil de resolver. A maioria de nós, ocidentais, nasceu em uma família que adotou alguma tradição religiosa, por sua vez, herdada de seus ancestrais, numa sucessão a mais das vezes ininterrupta. Reconheço que nos dias atuais essa situação vem passando por mudanças, mas para quem já passou dos quarenta anos, na maioria dos casos é essa a situação.

Ocorre que uma coisa é seguir professando uma religião legada ao indivíduo pela família, outra coisa é escolhê-la de livre e espontânea vontade. Nesse último caso, a escolha pode constituir um grande desafio, a exemplo do que tem ocorrido comigo e com tantas outras pessoas que, por motivos diversos, assumiram essa opção.

No caso de quem nasceu numa família de tradição cristã, ou, o que é mais comum no Brasil, de tradição declaradamente católica, tal opção se torna mais difícil ainda. Quero crer, como afirmou Jung, que a mentalidade religiosa ocidental foi fortemente influenciada pela perspectiva cristã, o que faz deste o substrato religioso coletivo paradigmático para qualquer ocidental.

A consequência natural desse raciocínio é que Cristo impõe-se como o Mestre dos mestres, caso assumamos a perspectiva junguiana como verdadeira. Sendo Cristo o Mestre por excelência, seria ele, também, mais uma vez conforme a concepção junguiana, o paradigma do homem individuado. Cristo aparece, nesse viés de raciocínio, como modelo a ser seguido e imitado.

Esse seria o preço a ser pago por quem quer que opte por assumir qualquer das religiões que se filiam à tradição cristã como credo pessoal. Cabem, porém duas questões de difícil solução. Primeira: a hipótese junguiana tem sustentação científica? Ou seja: quais são os riscos e possibilidades de quem, tendo como substrato o paradigma cristão ocidental, opte por assumir outra religião alheia a tal modelo? Segunda: o que significa aceitar Cristo como modelo a ser imitado? São questões para as quais, no momento, ainda não tenho uma resposta absoluta. Retomarei este tema na próxima quinta-feira.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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