1018748_4Penso também que outros títulos são dados, pelos artistas que os produzem, a quadros ou imagens de Nossa Senhora que representam certas cenas de sua santíssima vida, e esses títulos, como os populares, foram passando de boca em boca, e entraram no rol dos outros, como se fossem de origem histórica; no número destes estariam então Nossa Senhora do Desterro, quadro ou imagem representando a fuga da Sagrada Família para o Egito; a Divina Pastora ou Nossa Senhora vestida como uma pastorinha e acariciando suas ovelhas; Nossa Senhora da Cadeira e Nossa Senhora do Livro, quadro de Rafael; Nossa Senhora do Ostensório, antiga imagem venerada na França, imagem esta que tinha na mão um ostensório, e talvez outras.

Edésia Aducci

[Aducci, Edésia. Maria e seus títulos gloriosos. 3ª. ed. São Paulo: Loyola, 2003, p. 14.]

No texto escrito para a Apresentação à segunda edição do livro Maria e seus títulos gloriosos, da autoria de Edésia Aducci, o Padre Quinto Davi Baldessar afirma, a propósito dos diversos títulos marianos apresentados pela autora:

Há títulos lendários. Há títulos até oriundos de devoções pagãs, hoje mais 

Madona Solly, de Rafael

Madona Solly, de Rafael

do que despidos de paganismo. Há títulos que tiveram sua origem de um fato insignificante, por motivo de uma necessidade sentida, uma simples imagem encontrada, uma promessa cumprida etc. Tudo isso completa a realidade gloriosa do presente, pois é por esses títulos que, sejam quais forem, o povo hoje chama e implora o auxílio da Mãe de Deus, ovacionando-a no meio das multidões (p. 8).

A autora divide o livro em três partes: Títulos Litúrgicos; Títulos Históricos, abrangendo desde o Século I ao Século XX; e Títulos cuja fonte histórica não menciona o ano ou o século em que começaram a ser usados. A primeira parte apresenta seis títulos marianos, a segunda, cento e trinta e dois, e a terceira, vinte e dois títulos.

Pelo volume de títulos apresentados, conclui-se que não foi fácil o trabalho de Edésia Aducci no afã de identificar-lhes a origem. Essa nem sempre é clara ou de fácil identificação, uma vez que muitos dos títulos atribuídos à Virgem devem sua origem a tradições populares que se perdem nas brumas do tempo. Em que pesem as dificuldades que a autora certamente teve que enfrentar, seu esforço foi recompensado, pois legou aos mariologistas e devotos de Nossa Senhora uma obra de agradável e elucidativa leitura.

Um dos títulos apresentados no livro, que certamente causará surpresa a muitos leitores, é o que denomina a Virgem de Nossa Senhora do Brasil. Eis a descrição do título:

A devoção à Santíssima Virgem sob o título de Nossa Senhora do Brasil tem sua origem ligada a um acontecimento que não pode ser desconhecido. Em 1829 foi enviada pelos Revmos. padres capuchinhos do Brasil, aos padres da mesma ordem, em Nápoles, uma imagem de Nossa Senhora, que eles conservam na igreja de Santo Efrém, daquela cidade. Aos 22 de fevereiro de 1840, um grande incêndio destruiu completamente essa igreja, e, com surpresa geral, a imagem da Santíssima Virgem não foi atingida pelas chamas. Nasceu então a devoção à milagrosa imagem, que, pelo fato de ter ido do nosso país, tomou o título de Nossa Senhora do Brasil. Antes e depois de sua solene coroação, realizada, com grande pompa, em 14 de novembro de 1841, Nossa Senhora tem mostrado como lhe agrada ser invocada com o título de Nossa Senhora do Brasil, pois são inúmeras as graças extraordinárias que tem concedido aos seus devotos” (p. 322).

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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