A uma invasão do fantástico exterior deveria corresponder uma exploração do fantástico interior. Haverá um fantástico interior? E aquilo que o homem faz não será a projeção daquilo que ele é ou virá a ser? É, portanto, a esta exploração do fantástico interior que vamos proceder. Ou, pelo menos, esforçar-nos-emos por fazer sentir que essa exploração seria necessária, e esboçar um método.

[Pauwels, Louis; Bergier, Jacques. O Despertar dos mágicos: introdução ao realismo fantástico. Tradução de Gina de Freitas. 26ª. ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996, p. 345.]

Desde tempos imemoriais o homem sempre se deixou fascinar pela busca dos grandes mistérios. Parece que se pode identificar, na maioria das sociedades humanas, um tipo de saber que só é dado a conhecer a determinados indivíduos ou a grupos restritos de pessoas. Este saber em geral está cercado por uma aura de mistério e de sacralidade. É como se fosse algo de um poder tão grande que aos profanos não seria lícito permitir o acesso. Em alguns casos, tal conhecimento é guardado debaixo de sete chaves, sendo transmitido somente através da tradição oral.

Recordo aqui, a propósito, a polêmica em que se envolveu o etnólogo francês Pierre Verger quando começou a publicar seus livros sobre o Candomblé, pois, de acordo com alguns de seus críticos, ele teria revelado conhecimentos que lhe foram transmitidos pelos Babalorixás os quais não poderiam ser publicados. De fato, tais conhecimentos, de natureza iniciática, eram transmitidos apenas oralmente e, ainda assim, apenas a inciados. Vale mencionar que o próprio Verger foi um iniciado, tendo recebido no Candomblé o título de Fatumbi, título este que ele de bom grado incorporou ao seu nome, passando a assinar Pierre Fatumbi Verger.

Bem, esse conhecimento, de natureza secreta, se tornou conhecido como esotérico, para diferenciá-lo de um outro, dito exotérico. Assim, esoterismo, grafado com a letra “s”, denomina toda uma categoria de saber em geral de natureza iniciática, quase sempre restrita a um pequeno grupo de indivíduos. Quanto ao saber dito exotérico, grafado com a letra “x”, diz respeito ao conhecimento comum, a que qualquer pessoa pode ter acesso. O estabelecimento dessa diferença se deve à escola pitagórica, que ministrava os dois tipos de conhecimento. Para ter acesso ao conhecimento esotérico, era necessário que o neófito passasse por uma série de iniciações.

Mas o que é que tal saber tem de tão especial, que o torna interdito às pessoas comuns? Por que ele só pode ser transmitido depois de um longo processo de iniciação? O que ele faculta ou propicia a quem o detém? Que garantias ou condições são requeridas de quem o busca? Por que, enfim, há um temor tão grande de que venha a cair nas mãos de pessoas inescrupulosas ou aéticas? E, afinal, existe mesmo este saber dito esotérico ou tudo não passa de fantasia de mentes ociosas?

Desde o advento da Teoria da Relatividade, formulada por Albert Einstein, sabe-se que a matéria é não mais que energia condensada, noutras palavras, tudo é energia. Pois bem, o fato é que, de acordo com várias tradições esotéricas, a energia que permeia a vida e todos os corpos é manipulável. Um dos objetivos do conhecimento esotérico seria, exatamente, a manipulação de tais energias. Nesse sentido, o saber poderia ser usado tanto para o bem quanto para o mal, gerando, de acordo com o objetivo com que fosse usado, consequências benéficas ou maléficas. Sua posse, portanto, exigiria uma conduta eminentemente ética de seu detentor. Daí porque tal saber exige uma série de requisitos para que a ele se tenha acesso.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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