As 50.000 mil pessoas que acorreram a 13 de Outubro à Cova da Iria, um descampado nos arredores de Fátima, então uma pequena aldeia, equivaliam em número ao triplo das que aí tinham estado havia um mês. Atraía-as, obviamente, a afirmação feita por Lúcia dos Santos, a mais velha dos três videntes, segundo a qual a 13 de Outubro iria haver um milagre. Mas nem ela, nem nenhum dos outros dois videntes disseram que o Sol iria dançar, pelo menos de acordo com a Documentação crítica de Fátima, que faz um registro meticuloso do que eles afirmaram e do que foi publicado sobre o milagre do Sol.

Stanley Jaki

[Azevedo, Carlos A. Moreira; Cristino, Luciano (Coordenadores). Enciclopédia de Fátima. Estoril, Portugal: Princípia, 2007, artigo: Milagre do Sol, p. 355.]   

Quem leu o texto anteriormente postado neste blog que trata das aparições de Nossa Senhora em Fátima, deve estar lembrado de que o concluí com uma referência ao milagre que a Virgem Maria prometeu a Lúcia que seria realizado no dia 13 de outubro, quando aconteceria a última aparição. Pois bem, o milagre, ainda hoje objeto de muita controvérsia, ficou conhecido nos anais da história como “o milagre do sol”. O que foi, pois, “o milagre do sol?” Segundo as descrições feitas por alguns dos presentes, após uma manhã de muita chuva em que o céu permanecera o tempo inteiro coberto de nuvens, passando já do meio-dia, de repente Lúcia disse que a Mãe Santíssima apontava para o sol por trás das nuvens. Quando todos voltaram o olhar para cima, deu-se o fenômeno. Primeiro, apareceu o sol por entre as nuvens como um imenso disco cor de prata. Então, ante os olhares atônitos da multidão, o Sol teria começado a rodopiar como uma gigantesca bola de fogo. De repente, o sol parou. A seguir, o fenômeno se repetiu por mais duas vezes. Começou, depois, a emitir diferentes matizes de cores, mostrando sucessivamente todos os espectros do arco-íris. Ato contínuo, descreveu um ziguezague, precipitando-se em direção a terra, voltando, logo a seguir, ao seu lugar de costume. Agora não havia mais qualquer sinal de chuva, e o sol brilhava intensamente com sua tonalidade natural no firmamento.
O milagre de Fátima ganha as páginas do jornal O Século

O milagre de Fátima ganha as páginas do jornal O Século

Dois dias depois, o jornalista Avelino de Almeida, testemunha ocular do fenômeno, publicava uma reportagem no jornal O Século. O artigo seria o ponto de partida para uma série de discussões acaloradas sobre o assunto. Há alguns anos, em 1999, Stanley Jaki, Doutor em Teologia Sistemática pelo Instituto Pontificio di S. Anselmo, Roma, e em Física pela Universidade de Fordham, Nova Iorque, realizou um exaustivo estudo sobre o fenômeno, tendo, inclusive, analisado os arquivos de Fátima. Suas conclusões foram publicadas no livro God and the Sun at Fatima (Port Huron, Michigan, Real View Books).

No artigo sobre o assunto escrito para a Enciclopédia de Fátima, afirma o autor que “A conclusão é que a única abordagem adequada do ‘milagre do Sol’ consiste em considerar que se tratou de um fenômeno meteorológico” (p. 357). Para o fenômeno, conhecido como lente de ar, dá a seguinte explicação: “A explicação está no fato de duas correntes de vento que se encontrem num ângulo poderem fazer com que uma massa de ar entre em movimento rotativo. Caso haja uma inversão de temperatura, essa massa não só rodará como também será puxada para cima e para baixo, e muito provavelmente seguindo uma órbita elíptica. O tamanho de uma tal lente de ar pode variar entre poucos metros e 30 ou mais metros. Se, além disso, se encher de partículas de gelo, poderá fragmentar a luz do Sol em várias, ou pelo menos algumas, cores do arco-íris, tal como foi observado em Fátima. Um fenômeno semelhante ocorre quando da formação de tornados” (p. 357). 

Mesmo na hipótese de se tratar de um fenômeno meteorológico, nem por isso fica excluído o caráter miraculoso do fato. É o que conclui Stanley Jaki no artigo “Milagre do Sol”, quando escreve: “O caráter milagroso dessa lente de ar deve ser procurado na formação que se criou por cima da Cova da Iria e na previsão do momento feita por Lúcia meses antes, bem como no fato de a lente de ar, sendo tão frágil, ter mantido a sua forma durante mais ou menos 15 minutos depois de descrever dois ou três percursos elípticos na direção da terra. A explicação do acontecimento por meio de uma lente de ar dá conta, de forma satisfatória, de um complexo conjunto de ocorrências que são miraculosas na medida em que são imprevisíveis e muito raras” (p. 357).

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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