Brahma, divindade do panteão Hinduísta

Brahma, divindade do panteão Hinduísta

Genericamente, o Hinduísmo pode ser definido como um conjunto de diversificadas experiências religiosas, filosóficas ou práticas, regidas por alguns princípios fundamentais interdependentes, como os conceitos de Dharma (lei que regula a existência universal), Karma (lei de causa e efeito que mobiliza os destinos individuais), Yoga (os vários métodos de autoconhecimento), Samsara (o eterno ciclo de nascimentos e mortes individuais e cósmicas) e Moksha (a iluminação e a libertação do eterno retorno), validados por um conjunto de escrituras (Veda) que especulam sobre o conhecimento espiritual.

 

Aghorananda Saraswati

[Saraswati, Aghorananda. Mitologia Hindu. São Paulo: Madras, 2006, p. 33].

Dentre as grandes religiões da humanidade, talvez nenhuma cause tanta estranheza aos padrões excessivamente racionais da cultura ocidental quanto o Hinduísmo. Paradoxalmente, a partir dos anos sessenta, quando o movimento hippie descobriu a Índia e suas propostas de técnicas de meditação, em que se destacaram gurus como Maharishi Mahesh Yogi e o fundador do Movimento Internacional para a Consciência de Krishna, A. C. Bhaktivedanta Swami, o Hinduísmo se tornou moeda corrente em diversos países do hemisfério ocidental.

A estranheza pode ser creditada a diversos fatores inerentes ao Hinduísmo. O padrão ocidental de religião estruturou-se sobre os alicerces de dois credos monoteístas, o Judaísmo e o Cristianismo, de onde se originou este último. Em que pese a dimensão mítica do cristianismo – pois não existe religião sem mito, por mais cerebral e factual que ela seja -, as condições históricas do seu desenvolvimento proporcionaram as necessárias condições para que ele se tornasse uma forma de religião mais racionalizada, mais cerebral. O que ainda restava de mítico no cristianismo foi grandemente suplantado pelas mudanças operadas após o Concílio Vaticano II. No entanto, ninguém se engane: o que antes aparecia como mito se mostra, a partir de determinado momento, sob uma embalagem um pouco diferente, mas, nem por isso, menos mítica: são os dogmas. O assunto, o sei muito bem, é complexo e mereceria um comentário, o que deixarei para uma outra oportunidade, por ser este meu objetivo neste texto.

Isso posto, resta dizer que, no caso do Hinduísmo, o mito é bem mais presente. Isso se deve, igualmente, às condições históricas tanto de sua origem quanto do seu desenvolvimento ao longo dos séculos. Quanto os arianos se instalaram às margens do rio Indo, ali já encontraram uma cultura autóctone, com suas próprias tradições religiosas. O que aconteceu foi que do contato entre essas culturas foi se estruturando uma nova religião que, por ser tributária de tradições diversas, incorporou elementos que a tornariam uma das tradições religiosas mais ricas e multifacetadas da humanidade. Por não ter um fundador, o que o faz diferir das outras grandes religiões como o Judaísmo, o Cristianismo, o Budismo e o Islamismo, os elementos míticos se impuseram ao Hinduísmo de forma mais determinante. O que, entretanto, ao contrário do que alguns entusiastas defensores da tradição judaico-cristã dão a entender, de forma alguma implica numa desvalorização ou diminuição do Hinduísmo se comparado às outras grandes tradições religiosas.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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