Os tópicos divertem, empolgam e estimulam animados debates. Constituem uma fonte de esperanças eivadas de superstições e também de misteriosos temores. É um tema popular – percepção extra-sensorial (PES), telepatia, clarividência, sobrevivência post-mortem, reencarnação, ocultismo e muitas áreas afins que excitam a fantasia de muitas pessoas e que têm ainda uma conotação misteriosa aos olhos do público em geral. É a área em que a mais cega credulidade se encontra misteriosamente ligada à desconfiança mais dogmática, onde descobrimos fraudes impudentes, bem como ilusões, e erros cometidos com boa intenção, muita busca de sensações exageradas como também uma pesquisa moderada e discreta dos fatos. Conquanto a noção popular que se tem dessa área esteja ainda cheia de conotações misteriosas, devemos aprender a encará-la de maneira realista e perfeitamente natural, como novas regularidades da natureza até então inexploradas. Felizmente a ciência está penetrando gradativamente nessa área. O ramo de ciência que está investigando várias afirmações de caráter sobrenatural chama-se geralmente pesquisas psíquicas ou parapsicologia, embora muitos parapsicologistas esperem que se lhe venha a encontrar, no futuro, um nome mais apropriado.

Milan Ryzl

[Ryzl, Milan. Parapsicologia atual: fatos e realidade: a grande força da percepção extra-sensorial. Tradução Leônidas Gontijo de Carvalho. – 2ª. ed. – São Paulo: IBRASA, 1979,  p. 11].

A paranormalidade muito cedo despertou meu interesse. Ainda na adolescência comecei a ler sobre o assunto e, quando saí de Massapê para vir morar em Fortaleza, aos dezoito anos, já tinha devorado vários tratados sobre o assunto, inclusive todos os livros do Pe. Quevedo publicados até então. Um dos meus sonhos de adolescente era conhecer pessoalmente esse padre jesuíta e fazer o curso por ele promovido todos os anos no Centro Latino-Americano de Parapsicologia-CLAP, em São Paulo, sonho que realizaria, enfim, em janeiro de 1982. Discordo do Pe. Quevedo sob diversos aspectos, mas disso pretendo tratar em outra ocasião, quando comentar seus livros. Naquela época, porém, ele era um dos meu ídolos e foi com emoção que recebi de suas mãos alguns livros autografados.

Muito cedo despertei para a concepção de que o psiquismo humano é bem mais vasto e poderoso do que se supõe habitualmente. Foi essa convicção que me levou a me dedicar ao estudo da parapsicologia. Não deixa de ser sintomático, nesse caso, a estreita associação entre fenômenos paranormais e experiência mística. Uma vez que a mística já constituía para mim assunto de particular interesse, não precisou muito para que esse interesse me conduzisse, também, ao estudo da parapsicologia.  

Dr. Milan Ryzl

Dr. Milan Ryzl

Uma das leituras que muito serviu de incentivo para me dedicar ao estudo da parapsicologia foi o livro do pesquisador tcheco Milan Ryzl, doutor em Ciências Naturais, intitulado Parapsicologia atual: fatos e realidade: a grande força da percepção extra-sensorial, cuja tradução foi publicada no Brasil em 1979. O doutor Milan Ryzl, nascido em 1928, teve seu interesse despertado para o tema depois do contato com uma parenta que manifestava fenômenos supostamente paranormais. Resolveu, a partir desse contato, se dedicar ao estudo do assunto, se tornando, com o tempo, um dos mais conceituados pesquisadores na área.

A parapsicologia não conquistou ainda, definitivamente, o seu espaço no conjunto das ciências, seguramente devido à natureza da fenomenologia de que se ocupa, ainda vista com desconfiança nos meios acadêmicos, mesmo já somando tantas décadas de estudos de dedicados e abalizados pesquisadores. A propósito, escreve Milan Ryzl: 

“As influências culturais de nossa vida cotidiana bloqueiam a emergência da percepção extra-sensorial. Desde nossa infância, somos ensinados a confiar somente nos sentidos somáticos e a negligenciar a P.E.S. Vivemos, portanto, num estado de sugestão negativa orientada contra o emprego de P.E.S. Procuremos gradualmente, passo a passo, remover este obstáculo por meio de nossa experiência cotidiana, começando com pequenos vislumbres ocasionais de percepção extra-sensorial e avançando gradualmente para um uso cada vez mais controlado. Uma vez que nossas dúvidas herdadas sejam substituídas pela confiança positiva de que a P.E.S. ocorre realmente e pode ser usada para nosso benefício, então tornar-se á mais fácil desenvolver e aperfeiçoar esta nova faculdade do homem” (p. 268).

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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