Ave-MariaA Ave-Maria é a oração mais conhecida e mais comum que a Igreja católica dirige a Maria: nós a aprendemos quando crianças e a repetimos por toda a vida. É a oração mais simples e popular que, mesmo extraindo suas origens do evangelho, traz em si uma série de expressões que retratam a alma humana na situação perene e atual de cada pessoa. É a oração que coloca o homem, tal como é, em relação com uma mulher que é mãe de Jesus e mãe de todo homem, à qual apresenta sua saudação e o pedido do que lhe é útil. É uma fórmula reveladora de uma realidade divina e humana fascinante, mas também comprometedora.

Tulio Faustino Ossanna

[A Ave-Maria: história, conteúdo, controvérsias. Tradução de Alda da Anunciação Machado. São Paulo, Loyola, 2006, p. 11.]

 

Para quem se dedica ao estudo da mariologia, o livro A Ave-Maria: história, conteúdo, controvérsias, escrito pelo franciscano Tulio Faustino Ossanna, professor emérito da Pontifícia Universidade São Boaventura (Roma), se reveste de especial valor por tratar dum tema que ocupa lugar privilegiado nessa área: a oração da Ave-Maria.

O livro, de 124 páginas, é dividido em três partes: Primeira Parte: Texto, origem, história, estrutura da Ave-Maria; Segunda Parte: O conteúdo da Ave-Maria; Terceira Parte: A Ave-Maria e a práxis. Remontando aos primórdios da história do Cristianismo, o autor detalha toda a longa trajetória dessa oração até os dias atuais.

Para quem tem o hábito de repetir a Ave-Maria diariamente de forma quase automática, pode ser surpreendente constatar que, por trás dessa oração tão simples e corriqueira existe uma história de quase vinte séculos, durante a qual ela foi sendo objeto de acréscimos, supressões, alterações até chegar à fórmula atualmente usada.

Ao tratar da História da Ave-Maria, na primeira parte, afirma o autor: “A Ave-Maria traz em si a marca de muitos séculos e de muitas mãos que a compuseram um pouco por vez. A Igreja ousa repetir o texto evangélico, completando-o ou modificando-o, e imediatamente depois manifesta a necessidade de apoiar-se em Maria nas dificuldades que encontra para ser fiel a Cristo: a figura de Maria nas catacumbas de Priscila (fim do século II) e na igreja de Santa Maria Antiqua (ambas em Roma), e a invocação gravada no muro da casa de Maria em Nazaré mostram como, desde o princípio de sua história, a Igreja aprendeu a buscar Maria ao lado de Cristo” (p. 29).

Somente em 1568, portanto quinze séculos após o advento do Cristianismo, a Ave-Maria foi oficialmente aprovada pela Igreja. Na verdade, desde então, quase nada mudou no texto oficial da oração. As alterações, portanto, aconteceram principalmente antes desse reconhecimento. A Ave-Maria se impôs ao Cristianismo como a porta de acesso à Virgem Maria, a suprema intercessora dos cristãos. O Ave, palavra que dá início à oração, é, simultaneamente, uma saudação a Maria e já um pedido implícito para que a Virgem se digne ouvir o devoto que, diante dela, se posta na condição de filho. É uma atitude sob a qual subjaz a esperança e a promessa, e, portanto, prenhe de comprometedoras consequências. A propósito, escreve Tulio Faustino:

“Enfim, o Ave é uma janela aberta através da qual chega ao coração e à casa do homem um passado rico de experiências, de acontecimentos, de história que continua. É a janela da qual se divisa o panorama do presente, do agora, com problemas e aspirações, com desafios e cansaço. Quantas coisas encobre aquele agora! Mas é também a janela que faz ver o futuro, o horizonte de nossa terra e da eternidade, o convite a retomar o caminho” (p. 121).

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

View All Articles