Dia do Entrudo. Jean baptiste Debret

Dia do Entrudo. Jean Baptiste Debret

Carnaval. Foi, até meados do século XIX, o entrudo brutal e alegre que Debret pintou e de que todos os velhos recordam. Pelo norte, centro e sul do Brasil, o movimento era igual. Água, farinha do reino, fuligem, goma, ensopando os transeuntes. Água molhando famílias e ruas inteiras, em plena batalha. Criados, outrora escravos, carregando bilhas, latas, cântaros, para suprimento dos patrões empenhados na guerra.

 

[Cascudo, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d., p. 247. – (Coleção Terra Brasilis).]

Apesar de sua origem não ser genuinamente brasileira, pode-se afirmar sem medo de incorrer em equívoco que nenhuma instituição é tão peculiarmente brasileira quanto o carnaval. Trazido para nosso país pelos portugueses, o entrudo está na origem desta festa espetacular que encanta e impressiona o mundo inteiro. A tradição seria imortalizada pelo pintor francês Jean Baptiste Debret (1768-1848) na tela “Dia do entrudo”, pintada quando de sua estadia no Brasil. Com o passar do tempo, o entrudo se modificaria, ganhando incorporando aspectos bem peculiares até se tornar o que hoje é o carnaval. Pelas características próprias dessa festa, é interessante mencionar aqui a curiosa informação prestada por Câmara Cascudo, citando um outro autor, a propósito do entrudo. Escreve o folclorista potiguar:

“Entrudo. Tempo de divertimento que compreende os três dias que precedem a Quarta-Feira de Cinzas; festas e divertimentos próprios desse tempo (Dr. Fr. Domingos Vieira). O quinhentista Fernão Soropita falava ser a “honrada festa do entrudo, onde a gula com a ira e a luxúria têm particular assistência” (p. 373).

O carnaval é, sobretudo, a celebração da alegria e do excesso. É a festa do desregramento. Mas é mais que isso; é, também, a festa do congraçamento, do encontro, da celebração de laços e inícios de novas histórias… e quantas histórias tiveram início numa folia carnavalesca! (Escuso-me de dizer até onde minha história pessoal é tributária de alguns dias de folia nas fímbrias da praia do Iguape).  

A propósito dos elementos que constituem o carnaval, escreve Câmara cascudo: “Música, indumentária, alimentação, vocabulário, elevação ou pobreza espiritual são trazidos ao alcance do estudo e da observação durante as setenta horas carnavalescas. Creio que as cantigas e danças se afirmaram, multiplicando-se, ano a ano, no séc. XIX, com os cordões, ranchos, grupos, clubes, carros alegóricos, canções e ritmos postos em circulação na época” (p. 247).

O folclorista acentua a afirmação das músicas e danças carnavalescas. No texto postado ontem neste blog, me referi a uma música que se tornou um verdadeiro hino do carnaval brasileiro. Na oportunidade, divulguei dois vídeos com diferentes execuções da música. Concluo este texto com outros dois que seguem o mesmo estilo. Ontem pela manhã, conversando com Indira, ela me falou de um episódio de desenho animado em que Tom e Jerry travam sua infindável disputa mediados pela canção composta por Jararaca. Aproveitei a dica para inseri-lo neste texto.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=DFxYA3MDHPI[/youtube]

Nesse outro, os impagáveis comediantes Harpo e Chico Marx enlouquecem ao piano ao executarem a quatro mãos Mamãe eu quero.

 [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=ZYxgjJK7kD0[/youtube]

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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