Manhã de segunda-feira. Enquanto escutava, mais uma vez, o Adágio do Concierto de Aranjuez, do espanhol Joaquim Rodrigo, senti no ar o familiar odor de seiva de alfazema. Conforme predito, ele estava de volta. Vinte e um dias se passaram desde que Dom Cristiano aqui estivera pela primeira vez. Agora retornava, nesta manhã de segunda-feira, para mais uma conversa. Devo dizer que não foram fáceis estes vinte e um dias, contados desde 16 de março, quando, sem que eu previsse, ele adentrara minha biblioteca, deixando-me surpreso e estupefato por sua inusitada visita.

Depois disso, quase não escrevi, como sabem os leitores que me têm acompanhado neste blog. Foram vinte e um dias difíceis de transpor. Minha companhia principal foi a música. Várias vezes ouvi o Concierto de Aranjuez, a exemplo do que faço enquanto redijo este texto. O mesmo  ocorreu,  quando Dom Cristiano por aqui assomou mais uma vez, cumprindo sua promessa, qual seja, que estaria comigo ao longo destes 21 dias, instruindo-me quanto aos passos que deveria seguir. Acho que escutar o Adágio foi, de certo modo, uma forma que encontrei de manter a presença de Dom Cristiano. Depois que me apresentou o Padre Rotundus, Dom Cristiano desapareceu por nove dias, durante os quais estive em colóquios com o simpático e paternal cônego. Depois disso, Dom Cristiano ainda apareceu. Mas, conforme sua explícita instrução, eu não deveria mais escrever sobre nossos encontros, até que se cumprisse o prazo por ele estipulado, quando, então, eu deveria voltar a escrever.

Tão confuso me encontrava durante este período, que quase nada postei neste blog, conforme já disse. Apenas acrescentei, atendendo à sugestão de Dom Cristiano, mais uma categoria, a categoria 00. Hoje é domingo, dia do Senhor, com o fito de transcrever opiniões e pontos de vista de outros autores sobre o Mestre.

Hoje, quando retornou, às dez horas desta manhã, saudou-me com um aceno e, ato contínuo, estendeu-me sua aliança de Cristo para que a beijasse. A seguir, disse-me que estava de volta, cumprindo a promessa de que me faria uma visita vinte e um dias após nosso primeiro encontro. “Cumpriste os ritos exigidos”, disse-me Dom Cristiano. “A partir de hoje”, prosseguiu com sua voz serena, que tem o dom de me acalmar e me deixar uma enorme sensação de paz pelo simples fato de escutá-la, “deves retomar os textos do teu blog. Hoje tem início a segunda etapa de tua Iniciação. Algumas surpresas te aguardam nas próximas sete semanas. Não te aflijas. Tem calma. Lê a Epístola aos Romanos, na Bíblia de Jerusalém. Também hoje terás acesso a algumas novas leituras que te serão de grande auxílio nos próximos 49 dias. Fica atento às demais leituras que serás inspirado a fazer ao longo das próximas semanas. Tampouco descuides dos sonhos que terás nas próximas noites. Nada temas, estou contigo e te assisto do lugar onde me encontro”.

Para minha grande surpresa, Dom Cristiano deu uma volta e, postando-se ao meu lado, tocou meu rosto e, virando-o para si, beijou-me afetuosamente a testa. Senti algo assim como uma corrente de energia percorrer-me o corpo inteiro, iniciando-se na base da coluna vertebral e indo até o topo da cabeça. Uma alegria indescritível tomou conta de mim. Como dizer algo de tão inefável com palavras tão pobres como as minhas? Eu queria ter a sensibilidade dos grandes místicos para falar adequadamente do que senti. Mas, como dizer o indizível, o que com palavras não se ousaria dizer, cabendo apenas sentir, segredo inefável que deve ser guardado no fundo do coração?

Dom Cristiano deixou-me quando a guitarra de Paco de Lucia fazia ecoar os últimos acordes do Adágio do Concierto de Aranjuez. E assim minha alma começou a primeira semana depois da Páscoa do Mestre em indescritível (e imerecido) júbilo.  

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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