icone16Jesus é um rabino singular que guarda a Lei, mas que a interpreta de forma pessoal e não se liga a nenhum dos grupos, correntes ou escolas judaicos da sua época. Nas suas mãos, a Lei não perde validez, mas abrem-se novos caminhos que a levam para além de si própria. A Lei continua vigente, mas, tal como se diz em Mateus 5,17, chega ao “pleno cumprimento”, ou seja, existe um antes e um depois de Jesus. Jesus não se limita a  ler e a comentar o Decálogo: relê-o e confere-lhe uma nova fisionomia, recompõe o seu sistema de relações internas, transforma o duplo mandamento do amor no centro que reorienta qualquer outro mandamento, reforça as normas éticas e relativiza os preceitos rituais, reafirma a Lei e ao mesmo tempo abre brechas nela. A sua ética é ao mesmo tempo a ética do coração e da acção concreta a favor do outro, em que a bondade e a compaixão de Deus se tornam pontos de referência que é necessário imitar. O Reino é o cenário de fundo constante e, por isso, o reinado de Deus e não o cumprimento à letra da Lei é o critério definitivo da actuação.

Armanda Puig

[Puig, Armand. Jesus: Uma biografia. Lisboa, Portugal: Paulus, 2006, p. 469.]

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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