As palavras de Maria na Anunciação: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38) evidenciam uma atitude característica da religiosidade hebraica. Moisés, no início da antiga Aliança, em resposta ao chamamento do Senhor, tinha-se proclamado Seu servo (cf. Ex. 4,10; 14,31). No advento da Nova Aliança, também Maria responde a Deus com um ato de submissão livre e de abandono consciente à Sua vontade, manifestando plena responsabilidade em ser a “escrava do Senhor”.

Papa João Paulo II

[Papa João Paulo II. A Virgem Maria – 58 Catequeses do Papa sobre Nossa Senhora. – Aquino, Felipe Rinaldo Queiroz de (org.). – 6ª. ed. – Lorena: Cléofas, 2006, p. 85.]

O Papa João Paulo II sempre deixou patente, ao longo do seu pontificado, sua irrestrita devoção à Virgem Maria. Ao escapar do atentado sofrido na tarde de 13 de maio de 1981, em plena Praça de São Pedro, no Vaticano, durante uma de suas audiências das quartas-feiras, o Pontífice atribuiu à intercessão miraculosa de Nossa Senhora o fato de ter sobrevivido. A data da malfadada ocorrência, aliás, é especialmente associada às aparições da Virgem em Fátima.

Essa devoção foi particularmente expressa numa série de homilias proferidas por João Paulo II durante os anos de 1995 e 1997, nas audiências públicas das quartas-feiras. As 58 homilias, inicialmente publicadas no L’Osservatore Romano, foram compiladas pelo Prof. Felipe Aquino, do que resultou o livro A Virgem Maria – 58 Catequeses do Papa sobre Nossa Senhora. De leitura fácil e agradável, a publicação proporciona aos leitores que dela se acercarem uma incursão pelos diversos temas que constituem a mariologia.     

No penúltimo capítulo, Devoção mariana e culto das imagens, afirma João Paulo II: “Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher… (Gl 4,4). O culto mariano funda-se sobre a admirável decisão divina de ligar para sempre, como recorda o apóstolo Paulo, a identidade humana do filho de Deus a uma mulher, Maria de Nazaré.  O mistério da maternidade divina e da cooperação de Maria na obra redentora suscita nos crentes de todos os tempos uma atitude de louvor, quer para com o Salvador quer Aquela que O gerou no tempo, cooperando assim na redenção. Um ulterior motivo de reconhecido amor pela Bem-aventurada Virgem é oferecido pela sua maternidade universal. Ao escolhê-la como Mãe da humanidade inteira, o Pai celeste quis revelar a dimensão, por assim dizer materna, da Sua ternura divina e da Sua solicitude pelos homens de todas as épocas” (p. 171).

E no capítulo seguinte, A oração de Maria, conclui: “Tendo recebido de Cristo a salvação e a graça, a Virgem é chamada a desempenhar um papel relevante na redenção da humanidade. Com a devoção mariana os cristãos reconhecem o valor da presença de Maria no caminho rumo à salvação, recorrendo a Ela para obter todo o gênero de graças. Eles sabem sobretudo que podem contar com a sua intercessão materna, para receber do Senhor quanto é necessário ao desenvolvimento da vida divina e à obtenção da salvação eterna. Como atestam os numerosos títulos atribuídos à Virgem e as peregrinações ininterruptas aos santuários marianos, a confiança dos fiéis na Mãe de Jesus impele-os a invocá-la nas necessidades quotidianas. Eles estão certos de que o seu coração materno não pode permanecer insensível às misérias materiais e espirituais de seus filhos” (p. 181). 

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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