Laia laia lá laia laia/ o samba/ é poesia mais profunda/ onde os bambas demonstram o seu viver/ é meu corpo, meu sangue, minha alma/ vem do coração/ porque me faz esquecer a tristeza e a solidão/ é no samba onde eu procuro o equilíbrio/ pra fugir de um martírio/ pros meus problemas o samba é a solução/ é minha vida, minha fonte de luz e riqueza/ o samba é beleza e nobreza/ é também minha religião/ enquanto eu cantar o samba/ eu serei feliz/ o samba é bondade é verdade/ é a minha raiz. 

Verdade do samba – Gabrielzinho do Irajá/Junior Thybau 

[CD Ninar meu samba, de Gabrielzinho do Irajá] 

Há poucos dias me encontrava absorto em minhas leituras quando minha atenção foi despertada por um som vindo da sala, onde uma vozinha suave e bem afinada entoava versos de um samba que dizia: “é no samba que eu procuro o equilíbrio/ pra fugir de um martírio”. Adorei aqueles versos, que eu nunca tinha ouvido. Mas a surpresa ficou também por conta da voz que os entoava: uma doce voz de criança. Levantei-me e, chegando à sala, encontrei Naza diante do som com um encarte de CD nas mãos. Indaguei: “Quem é esse que está cantando?” Naza respondeu: “É o Gabrielzinho do Irajá”. Apresentou-me, então, o CD “Ninar meu samba”, que ela havia adquirido sábado na loja do José do Egito (CD Music, no Center Um). 

Ao dar uma olhada na música que estava sendo executada, descobri que tinha como um de seus compositores o próprio Gabrielzinho. Tratatava-se da faixa nove do CD, intitulada “Verdade do samba”, em que Gabrielzinho canta com a participação especial da Velha Guarda da Portela. Uma beleza de letra e de música, coisa de gente grande. 

Gabriel Gitahy da Cunha, já popularizado como Gabrielzinho do Irajá, é uma criança de apenas doze anos que desde muito cedo, quando nem mesmo falava direito ainda, já demonstrava interesse pela música, especialmente o samba. Conforme revelou sua mãe certa vez, esse interesse começou a ser notado quando, com apenas dois anos e meio de idade, ele ouviu a canção “Mudança dos ventos”, entoada pela voz de Nana Caymmi na novela “Por amor”. O menino, conforme a mãe, parava tudo o que estivesse fazendo cada vez que ouvia a música. Quis logo saber quem era aquela que tinha uma tão bela voz. O fato é que logo mais Gabrielzinho era levado pela mãe a um show da Nana no Rio de Janeiro, quando teve oportunidade de conhecê-la pessoalmente e conversar com ela e o irmão desta, Danilo Caymmi. 

À medida em que crescia, Gabrielzinho mais e mais foi revelando seu gosto e seu talento de sambista nato. Passou a frequentar rodas de samba e não tardou a ser reconhecido como um autêntico sambista por artistas do porte de Zeca Pagodinho – seu ídolo-, 

Arlindo Cruz, Gabrielzinho e Beth Carvalho

 Dudu Nobre, Luiz Carlos da Vila e Dorina, esta última também do Irajá. Dorina conheceu Gabrielzinho quanto este tinha quatro anos de idade. Encantada com o talento do precoce sambista, convidou-o a participar de seu programa de rádio e, depois, de um seus shows, em que cantam juntos um samba.   

“Ninar meu samba” é o primeiro CD de Gabrielzinho do Irajá. Ao longo das quinze faixas do CD o jovem sambista dá um show de interpretação, fazendo antever um futuro promissor como sambista. O CD conta com as participações especiais de Dudu Nobre, Luiz Carlos da Vila, Nana Caymmi, Velha Guarda Portela, Dorina, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e Renatinho Partideiro.   

Gabrielzinho não é precoce apenas no samba. Sua mãe, Wilma Gitahy de Lima, engravidou com apenas quatorze anos de idade. Sete meses depois, nascia o futuro sambista. Devido ao parto precoce da mãe, a criança nasceu com retinopatia da prematuridade. Por esse motivo, Gabrielzinho é quase totalmente cego, conseguindo divisar apenas cores fortes e grandes obstáculos em seu caminho, além de perceber quando o ambiente está claro ou escuro. Os óculos que usa não objetivam melhorar ou corrigir sua visão, mas apenas proteger seus olhos da poeira. 

No encarte que acompanha o CD “Ninar meu samba”, ao lado de uma fotografia se encontram as seguintes palavras de Gabrielzinho: “Eu, Gabrielzinho do Irajá, agradeço a Deus por esse momento mágico na minha vida”. Na verdade, quem deve agradecer somos todos nós que temos o privilégio de contar com mais um sambista de alto quilate entre os bambas que compõem a nobre corte do samba brasileiro. Vida longa e muito sucesso ao pequeno grande Gabrielzinho do Irajá. 

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=OrD52-ZM6fY&feature=related[/youtube]

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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