O mundo é suscetível de receber bondade e espírito, quando o homem o assume e o personaliza por meio de uma finalidade espiritual, contribuindo com o material para essa obra e a decisão de sua vontade.

Federico Ruiz Salvador, O.C.D.

[Salvador, Federico Ruiz. Compêndio de Teologia Espiritual. Tradução Antivan G. Mendes. – São Paulo: Loyola, 1996, p. 209.]

Vivemos em uma época em que a capacidade de decidir por si mesmo torna-se cada vez mais difícil. A todo momento somos bombardeados por uma miríade de informações vindas de todos os lados, que entram, ou melhor, invadem nossa vida, quer o permitamos ou não. A tão apregoada sociedade midiática é isso: uma barafunda de apelos que nos invadem especialmente através dos olhos e ouvidos sem que disso nos demos conta.

Mas há algo mais grave. Os apelos disfarçados de informação entram e se alojam em nós de forma sub-reptícia, subliminar, e é aí que mora o perigo. Inconscientemente nos deixamos conduzir, e, de repente, nos vemos agindo de forma estranha até a nós mesmos, uma vez que agimos impelidos por motivações que não estão em consonância com a nossa verdadeira natureza, com os nossos mais autênticos ideais. Disso sobrevém o estranhamento. “Como foi que eu pude agir de maneira tão estúpida?”, indagamos algumas vezes a nós mesmos. Diante desse quadro, cabe uma pergunta: o que fazer? Está tudo tão às avessas, tão descontrolado, tão violento. Será que o mundo ainda tem jeito?

Eu prefiro acreditar que, em parte, sim. E cada indivíduo, cada um de nós, pode fazer sua parte. Creio que o individualismo faça parte da estrutura de personalidade do ser humano. Mas, a par disso, o altruísmo igualmente o faz, e é para este segundo aspecto do ser humano que devemos apelar, é nele que devemos focar. Acredito que, assim fazendo, alguns resultados positivos poderão ser obtidos. Há meios para isso, basta tentar usá-los e confirmar, por si mesmo, a partir da experiência, os resultados.

Um desses meios é a oração. Não me resta qualquer dúvida de que a oração modifica o ser humano. Essa premissa tem sido posta por mestres das mais diferentes religiões ao longo de séculos e milênios. Existe uma grande diversidade de métodos de oração. Para ficar somente no cristianismo, religião predominante no hemisfério ocidental, quem se dedicar a uma investigação aprofundada do assunto constatará sem dificuldade o que afirmamos. A diversidade de métodos, penso, é um aspecto bastante favorável, uma vez que temos uma diversidade tão grande de pessoas e, consequentemente, de perspectivas de vida. Ante a multiplicidade de métodos de oração, cabe a cada pessoa escolher aquele que mais se adeque a si, ao seu jeito de ser.

Há muitos méritos na prática da oração, um, porém, eu gostaria de destacar aqui: o fortalecimento da vontade. Posso afirmar que a prática diária da oração tem esse grande mérito: fortalecer a vontade. É preciso alertar que a prática da oração é um processo e, portanto, não se espere modificações da noite para o dia. Mas que elas ocorrem, não se tenha dúvida, basta perseverar. A perseverança, que está diretamente associada ao fortalecimento da vontade, cresce à medida em que se pratica. Ela vai sendo, também, uma consequência da prática. E o melhor é que a mudança que vai se produzindo no praticante, por sua vez, começa a afetar positivamente as pessoas à sua volta. Cria-se uma espécie de campo, digamos, energético, que vai aos poucos se espraiando. Modificando a nós mesmos, de alguma forma, contribuímos também para modificar os outros e, portanto, o mundo.

Quem define para si uma meta espiritual e nela permanece focado, mais cedo ou mais tarde experimentará mudanças muito positivas tanto em si quanto naqueles com quem convive diariamente. Um caminho para atingir tal meta é a prática diária da oração.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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