Nossa primeira lição é a seguinte: para rezarmos bem, precisamos “usar” o nosso coração juntamente com nossa razão, envolvendo-nos emocionalmente com as palavras que professamos por nossos lábios. Palavras que brotam espontaneamente de nossa memória, onde estão registradas todas as fórmulas aprendidas e decoradas durante a nossa vida. Caso contrário, corremos o sério risco de tornar as nossas preces insípidas, sem vida e, consequentemente, sem valor para nós mesmos.

Antonio Miguel Kater Filho

[Kater Filho, A. M. Orar com eficácia e poder. São Paulo: Editora Ave-Maria, 2007, p. 11.]

Tenho muito cuidado quando trato do tema oração porque ele, ou melhor, ela, a oração, se presta a muitos equívocos, não sendo o menor deles a crença comum de que basta rezar para ser atendido. Muitas vezes é difícil para um crente admitir que, apesar de suas orações e promessas, do seu anseio por obter uma determinada graça, o seu desejo não foi realizado. Onde estaria a falha? , indaga a si mesmo, terá sido falta de fé?

A oração constitui um dos pilares das religiões, motivo pelo qual está presente em todas elas, manifestando-se sob formas diversas. É, seguramente, um mecanismo muito poderoso de que dispõem os fiéis, prestando-se a finalidades diversas, e não apenas à súplica por auxílio em momentos de necessidade. Para mim, muitos aspectos da oração ainda mpermanecem um mistério. Algumas questões não podem deixar de ser consideradas, quando se resolve levar a sério o assunto: por que nas orações de súplica, algumas vezes somos atendidos e outras não? Quando não somos atendidos é porque a oração não funcionou? Onde está a falha, na minha pouca fé? Os santos intercedem mesmo pelos devotos? Quais são os limites da oração? Até que ponto um pedido pode ser atendido? E as outras formas de oração, como, por exemplo, a oração de louvor, qual sua função? E a oração de entrega, uma das mais potentes formas de oração e tão pouco conhecida?

Foi objetivando esclarecer algumas dessas questões que Antonio Miguel Kater Filho escreveu o livro Orar com poder e eficácia. Nele, são abordados cinco tipos básicos de oração: 1. A oração de louvor; 2. A oração de agradecimento ou de ação de graças; 3. Oração de entrega ou de confiança; 4. A oração de intercessão; 5. A oração de súplica. O autor é teólogo católico, formado pelo Instituto Teológico Sagrado Coração de Jesus, dos padres dehonianos. É fundador e diretor do IBMC – Instituto Brasileiro de Marketing Católico. Atua como consultor nessa área prestando consultoria a diversas instituições, dioceses e congregações. Realiza, juntamente com sua esposa Alaice M. Kater, retiros para casais abordando o tema “O Amor”.

Para quem quer compreender melhor a oração, tanto na perspectiva teórica quanto prática, o livro oferece algumas dicas muito úteis. Redigido de forma simples, com linguagem fluente e clara, constitui leitura muito agradável. Orar com eficácia e poder pode ser incluído naquela categoria de livros que, uma vez iniciada a leitura, não se consegue mais parar até que se chegue à última página. Para concluir, cito um trecho no qual o autor trata da oração de súplica. A forma como o tema é colocado merece uma boa reflexão:

Devemos, antes de pedirmos a Deus qualquer coisa que seja, procurar discernir profundamente em oração sobre a conveniência ou não dele atender a nossa súplica e, mesmo que o nosso coração aponte que essa é a nossa ardente vontade, devemos rezar como Jesus o fez, no Monte das Oliveiras, às vésperas de abraçar sua paixão e crucifixão.

Naquela noite, temeroso, prevendo o “remédio” amargo e difícil que teria de beber, Jesus, por três vezes, suplicou a Deus que afastasse dele aquele cálice, poupando-o desse terrível sofrimento e dessa dolorosa humilhação: Aba! Ó Pai! Suplicava ele, tudo te é possível; afasta de mim este cálice! (Mc 14,36a).

Porém, ciente de que muitas vezes nossa frágil vontade de filhos não coincide com a perfeita vontade do Pai, Jesus imediatamente concluiria sua súplica dizendo: Contudo não se faça o que eu quero, senão o que tu queres (Mc 14,36b). Permitindo assim que Deus Pai executasse na íntegra o plano que ele tinha para a sua vida aqui na terra. (p. 68).

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

View All Articles