O Magnificat convida a uma descoberta desse mundo interior em que Deus aguarda cada homem, no íntimo do coração. Maria não confunde sua alma com seu espírito, está muito familiarizada com a vida interior, conhece esse ponto de junção entre a alma e o espírito em que a Palavra age.

Pierre Dumoulin

[Dumoulin, Pierre. O Magnificat: uma escola de oração. Tradução José Joaquim Sobral. – São Paulo: Editora Ave-Maria, 2003, p. 19.]

Quando fiz minha peregrinação à Terra Santa, em 2008, entre as muitas emoções experimentadas nos diversos lugares sagrados que visitei, uma das mais intensas foi a que senti quando entrei na igreja de Ain Kharim. Ali, conforme a tradição, Maria encontrou sua prima Isabel, ocasião em que pronunciou o célebre Magnificat. O episódio é relatado em Lc 1,39-56.

Desde criança desenvolvi uma devoção natural a Nossa Senhora. Digo natural porque tal devoção foi brotando sem que eu precisasse de qualquer doutrinação para isso, a não ser o hábito comum aos meus pais de ir conosco a missa aos domingos. Ainda criança, me habituei a rezar diariamente, antes de deitar para dormir, três Ave Marias para Nossa Senhora, prática que mantive até o início da idade adulta.   

Depois, já adulto, aprendi o Magnificat. Senti tal encanto pela oração proferida pela Virgem Maria diante de sua prima Isabel que passei a repeti-la diariamente. Em pouco tempo já a sabia de cor. Também neste caso não foi preciso que ninguém me sugerisse rezá-la, isso eu comecei a fazer por iniciativa própria, apenas pelo prazer que sentia em repeti-la e pela fé que fui adquirindo no poder de intercessão de Nossa Senhora por intermédio dessa oração.

Algum tempo depois, adotei mais uma prática, que mantenho até hoje: qualquer oração que eu faça, inicio sempre pela recitação do Magnificat. Até mesmo quando vou rezar o terço, inicio pelo Magnificat. Também não é incomum que, enquanto caminho pela rua, ou se estou em uma fila, me concentre numa imagem mental de Nossa Senhora e a recite reiteradas vezes. Na verdade, posso dizer que o Magnificat se tornou o meu mantra pessoal, e confesso que não o trocaria por nenhum outro que porventura me fosse oferecido.

Pois bem, fiquei muito feliz quando descobri o belo livrinho de autoria do Pe. Pierre Dumoulin, “O Magnificat: Uma escola de Oração”. Ao longo de sete capítulos o autor comenta uma a uma as partes em que se divide o Magnificat. A medida em que comenta o belo canto-oração da Virgem Mãe, vai nos introduzindo também em diversos aspectos da oração feita com  e por Maria. A propósito, escreve:    

“Toda oração, simplesmente dirigida a Maria, é imediatamente “remetida” para Deus, com uma força da qual o homem, debilitado pelo pecado, é incapaz de imprimir. Como a bola que uma criança bastante enfraquecida atira à sua mãe, quando não pode atirá-la por sua própria força ao objetivo desejado, para que a mãe a lance longe, assim a oração que passa por Maria pode chegar ao coração de Deus. Orar por Maria, com Maria, é dar força a pobres orações. Isabel nos mostra o exemplo…” (p.16).

Para concluir, deixo aos leitores a versão do Magnificat conforme se encontra na Bíblia Sagrada publicada pela Editora Ave-Maria:

Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isso, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos. Acolheu a Israel, seu servo, lembrando da sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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