Tinha concluído minhas orações matinais e me postara diante do computador quando um odor forte inundou a biblioteca. Aquele cheiro não me era estranho, embora eu não conseguisse, de imediato, identifica-lo. O móbile dependurado na janela começou a tilintar. Há alguns dias, por indicação de Dom Cristiano, eu adquirira um novo móbile e, conforme sua sugestão, pendurara na janela da biblioteca. O odor se tornou mais forte, bem mais forte.  “Alecrim!”, exclamei com meus botões. Isso mesmo, era essência de alecrim o odor que recendia na biblioteca.

Sem entender muito bem o que acontecia, experimentei, por alguns momentos, um estado de moderada tensão. Na verdade, era muito mais expectativa que tensão.  Alguma coisa me fez automaticamente dirigir o olhar para as prateleiras da estante que ficam bem à minha frente. Meus olhos fitaram o volume do livro Alquimia e Misticismo, disposto ao lado dos dois exemplares d´O Livro Vermelho,sobre os quais se encontram um cálice e uma bola de cristal. Então percebi como que saindo da estante algo indistinto que se aproximava de mim. Uma estranha figura masculina, aparentando ter uns sessenta anos,se materializou bem defronte ao birô.

“Buenos dias, Vasco, ¿cómo estás?”, foram suas palavras de saudação. “Deve ser Regulus”, pensei comigo mesmo, ainda atônito com a visão. Foi só o tempo suficiente para concluir o pensamento e a tal figura já completava, como que respondendo a uma indagação que eu tivesse feito: “Si, soy el Regulus de quien te habló Dom Cristiano”, completando, a seguir: “Regulus de Finisterre”.

Minha surpresa aumentou ao constatar que ele falava comigo em espanhol. “Espero que me compreendas, pues tendré que hablar contigo en mi lengua materna. Pero sé que eso no será un problema. La  ocasión, por lo demás, de interactuar con alguién  en  esa lengua, te es  propícia”. Eu queria fazer algumas perguntas, mas ele não me dava tempo para falar: “Sé que estás curioso por saber más sobre mi. No te aflijas, oportunamente sabrás lo que te compite saber. Tengo la incumbencia de te prescribir algunos ejercícios y tareas que deverás cumplir al largo  de los próximos meses”. 

Não me contive e falei: “Tarefas?” “Si”, respondeu Regulus, “Dom Cristiano me há dado  esa incumbencia. Conforme él te habia dicho, empezas  ahora una nueva etapa de tu iniciación. Tendrás acceso a un saber de lo cual sólo tenias te aproximado muy superficialmente. Pero  para tener acceso a el tedrás que seguir mis instruciónes”.  “Pode ter certeza de que farei o possível para seguir todas as instruções que o senhor me der, desde que estejam ao meu alcance”. “Por favor, Vasco, no me llames de señor, puedes me tratar por tu”.  “Está bem”, aquiesci.

Olhando para a janela, disse: “Veo que hás adquirido el móvil que Dom Cristiano te há sugerido. A mi, me gustó bastante, es de fato muy bonito. Realmente me complace. Pero”, continuou, dirigindo o olhar para mim, “quiero que lo retires de la ventana”.

Voltando-se em direção à estante de onde eu supunha que ele saíra, falou: “Quiero que lo dependures allí, porque va a ser por aquella estantería  que entraré en este gabinete”.  A seguir, olhando-me de frente novamente, prosseguiu: “Tengo una primera tarea para ti: quiero que mañana vás a Livraria Cultura. Allí te dirigirás a sección de religiones. Allí te remito a un  libro que deberás adquirir y empiezar  mañana  mismo la lectura”.  “Que livro é?”, indaguei, não contendo minha curiosidade. “No quieras saber aún. Contiene  tu curiosidad hasta mañana. Cuando estubieres allí, compreenderás  el  señal que te daré y ninguna duda tendrás cuanto al livro que deberás recoger en  la estantería”.

A bem da verdade, devo dizer que eu estava gostando muito daquela conversa. Adoro a língua espanhola, a sonoridade das palavras, o ritmo, tudo enfim. Escutar Regulus estava sendo um deleite, além da imensa curiosidade e expectativa que só cresciam em mim à medida que ele prosseguia com seu discurso.  “Hay más dos cosas que necesitas saber. Primero, quiero que sepas que estaré contigo hasta el dia 3 de agosto de 2011. Cuando se fizer necesario, aqui apareceré para te transmitir instrucciones o aclararaciones. Segundo, debo informarte que hasta  esa fecha no serás instruido exclusivamente por mí. Brevemente te apresentaré una otra persona, que me ayudará en la realización de este  paso de tu iniciación. Bien, fue una alegria inmensa estar contigo. Mientras tanto, hasta luego”. A seguir, ergueu a mão direita e finalizou com a habitual saudação usada pelos peregrinos que se dirigem a Santiago de Compostela: “Ultreya y Suseya!”

Regulus virou as costas para mim e saiu em direção à estante, esmaecendo-se ante meu olhar ainda atônito devido à inusitada visita.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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