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Vasco Arruda

A Guematria de nun é cinquenta. Há cinquenta “portões” ou níveis de Biná, entendimento. É por isso que os judeus contaram quarenta e nove dias – sete semanas completas de Pessach a Shavuot – para se prepararem a receber a Torá. A famosa questão é: por que a Torá nos diz para contar cinquenta dias após Pessach, quando imediatamente depois diz para contar sete semanas completas, que são apenas quarenta e novo dias? A resposta é que um indivíduo somente pode alcançar quarenta e nove níveis de intelecto por si mesmo. O quinquagésimo nível, aquele da transcendência, somente pode ser fornecido por D’ us. Portanto D’us diz: Vocês façam o seu e Eu farei o Meu. Se vocês atingirem o quadragésimo nono nível, Eu os abençoarei com o quinquagésimo; a camada mais elevada de Biná, entendimento.
Rabino Aaron Leib Raskin
[Rabino Aaron Leib Raskin. A luz das Letras do Alfabeto Hebraico. Tradução de Solange Porto; iniciativa e revisão de Marcia Eliezer. São Paulo: Editora Lubavitch – Brasil, 2011, p. 107.]

Vasco Arruda

Porque este mandamento que hoje te ordeno não é excessivo para ti, nem está fora do teu alcance. Ele não está no céu, para que fiques dizendo: “Quem subiria por nós até o céu, para trazê-lo a nós, para que possamos ouvi-lo e pô-lo em prática?” E não está no além-mar, para que fiques dizendo: “Quem atravessaria o mar por nós, para trazê-lo a nós, para que possamos ouvi-lo e pô-lo em prática?” Sim, porque a palavra está muito perto de ti: está na tua boca e no teu coração, para que a ponhas em prática.
Eis que hoje estou colocando diante de ti a vida e a felicidade, a morte e a infelicidade.
Se ouves os mandamentos de Iahweh teu Deus, andando em seus caminhos e observando seus mandamentos, seus estatutos e suas normas -, viverás e te multiplicarás. Iahweh teu Deus te abençoará na terra em que estás entrando a fim de tomares posse dela. Contudo, se o teu coração se desviar e não ouvires, e te deixares seduzir e te prostrares diante de outros deuses, e os servires, eu hoje vos declaro: é certo que perecereis! Não prolongareis vossos dias sobre o solo em que, ao atravessar o Jordão, estás entrando para dele tomar posse. Hoje tomo o céu e a terra como testemunhas contra vós: eu te propus a vida ou a morte, a bênção ou a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas tu e a tua descendência, amando a Iahweh teu Deus, obedecendo à sua voz e apegando-te a ele. Porque disso depende a tua vida e o prolongamento dos teus dias. E assim poderás habitar sobre este solo que Iahweh jurara dar a teus pais, Abraão, Isaac e Jacó.
Dt 30,11-20
[Bíblia de Jerusalém. Gorgulho, Gilberto da Silva; Storniolo, Ivo; Anderson, Ana Flora (Coord.). Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. 4ª reimpressão. São Paulo: Paulus, 2006, p. 296.]

Vasco Arruda

Encontramos em toda pessoa a ideia do Adão Cadmon – o Cristo em nós. Cristo é o segundo Adão, o que corresponde nas religiões orientais à ideia do atmã ou do homem total, do homem original, o homem “todo redondo” de PLATÃO – que é simbolizado por um círculo ou por uma pintura com motivos redondos. Encontramos todas essas ideias na mística medieval, na literatura alquimista em geral, desde o primeiro século da era cristã. Encontramo-las no gnosticismo e encontramos muitas delas naturalmente no Novo Testamento, em Paulo. Mas é um desenvolvimento absolutamente consistente da ideia de Cristo em nós – não o Cristo histórico fora de nós, mas o Cristo dentro de nós; e o argumento diz que é imoral deixar Cristo sofrer por nós, que ele já sofreu que chega e que devemos finalmente carregar nossos próprios pecados e não colocá-los sobre Cristo – nós todos deveríamos carregá-los em conjunto. Cristo expressa a mesma ideia quando diz: “Eu estou presente no menor de vossos irmãos”. E o que dizer, meu caro, se o menor de teus irmãos fosse você mesmo – o que dizer então? Então você percebe que Cristo não deveria ser o menor em sua vida e que nós temos um irmão dentro de nós que é realmente o menor de nossos irmãos, muito pior que o pobre mendigo a quem demos comida. Isto significa que temos dentro de nós uma sombra, alguém muito mau, alguém extremamente pobre, mas que precisa ser aceito. O que fez Cristo – sejamos bem banais – quando o consideramos como ser puramente humano? Cristo foi desobediente à sua mãe; Cristo desobedeceu à sua tradição; Cristo se apresentou como enganador e representou esse papel até o amargo fim; ele sustentou sua hipótese até seu triste fim. Como nasceu Cristo? Na maior miséria. Quem era seu pai? Era filho ilegítimo – do ponto de vista humano, uma situação lamentável: uma pobre moça que tinha um filho pequeno. Isto é o nosso símbolo, isto somos nós; nós somos tudo isto. E se alguém viver sua própria hipótese até o amargo fim (e tiver que pagar talvez com a morte) saberá que Cristo é seu irmão.
C. G. Jung
[Jung, C. G. III. A vida simbólica. Em: Jung, C. G. A vida simbólica: escritos diversos. Tradução de Araceli Elman, Edgar Orth; revisão literária de Lúcia Mathilde Endlich Orth; revisão técnica de Jette