De fato há coisas estranhas na vida que não se explicam facilmente. É por isso que insisto em crer. Parece que a fé tem um poder de mobilização muito grande. William James o disse muito bem quando afirmou durante uma conferência dirigida aos grêmios filosóficos da Universidade de Yale e Brown University, que seria posteriormente publicada: “Sua fé atua sobre os poderes acima dele como uma afirmação e cria sua própria realização” (James, Willliam. A vontade de crer. Tradução de Cecília Camargo Bartalotti. – São Paulo: Loyola, 2011, p. 40). Pouco adiante, completa o psicólogo americano no mesmo texto: “…a fé num fato pode ajudar a criar o fato…” (p. 41).

E pode mesmo, não tenho dúvidas. Entretanto, é preciso certa cautela ao fazer afirmações dessa natureza. A tão conhecida fórmula “Querer é poder” nem sempre se revela verdadeira e mais de uma pessoa já se viu imersa em grandes frustrações por não conseguir obter exatamente o que queria, por mais que tenha se esforçado.

A questão, parece-me, é que nem sempre há absoluta coincidência entre aquilo que pensamos que queremos e aquilo que, lá no íntimo, realmente desejamos. Nesse caso, talvez se pudesse afirmar que, de alguma forma, se há descompasso entre o que aparentemente queremos e aquilo que de fato almejamos, a fé não funciona, não é eficaz.

É aí que entra um importante fator que pode ser de grande auxílio para que uma pessoa que não se sente suficientemente centrada possa chegar ao necessário grau de discernimento para definir o seu querer. Porque quem se encontra em estado de grande divisão interna não vai conseguir definir claramente o ponto a que quer chegar. O fator a que me refiro como sendo uma ótima estratégia para ajudar no processo de centramento é a oração.

Tenho obtido resultados maravilhosos e surpreendentes com a oração. Até o momento, não descobri ainda nada tão eficaz quanto a oração como estratégia de ajuda para focar uma meta e definir os rumos para atingi-la.

Por que ela é tão eficaz? Quando se faz uma oração para um santo ou uma divindade, será que de fato provocamos uma intercessão externa a nós que ajuda a obter a almejada benesse?

Quanto a isso, não tenho uma resposta conclusiva. Posso afirmar, porém, que esse texto foi escrito quase como uma imposição, movido que fui por um comentário feito na tarde do último domingo por uma leitora a um texto postado há muito tempo neste blog. Sem nem ao menos me conhecer pessoalmente, e sem qualquer noção da comoção que o seu comentário me causaria, ela me ofereceu uma resposta extraordinária que tem tudo a ver com a intercessão dos santos.

Diante de fatos como esse acontecido no domingo, nada me resta senão repetir a frase de uma de minhas mestras, Santa Teresa d´Ávila, que sempre gosto de rememorar quando se trata de pensar a fé:

Não dou atenção à razão, que não passa de uma louca modesta.

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

View All Articles