A palavra humana/Comunica e age/Na vida do irmão  A palavra Divina/Revela a verdade/Nossa salvação  As duas palavras: Espiritualidade/De Teresa e de João  A palavra de Teresa/Nos ensina a orar – /Caminho de perfeição  A palavra de João/Nos ensina a amar/Mesmo na escuridão  A palavra, pois, está/No Carmelo Secular/Como ação e oração

Luciano Dídimo

[Dídimo, Luciano. A palavra na espiritualidade do Carmelo Secular. Em: Dídimo, Luciano. O meu Carmelo é marrom. Fortaleza: Edição do autor, 2011.]

Luciano Dídimo é um jovem que se tornou carmelita leigo depois de ler uma biografia de Santa Teresa de Los Andes. A identificação com a santa, que tinha como filosofia de vida a expressão da alegria, foi imediata. Ao descobrir que a mãe da santa chilena se tornara carmelita leiga, decidiu que aquela era uma proposta de espiritualidade que ele também gostaria de assumir, o que de fato fez.

Os primeiros frutos do itinerário desse jovem carmelita leigo vem a lume agora no livreto de poemas intitulado O meu Carmelo é marrom. No poema Santa Teresa de Los Andes homenageia a santa a quem credita a decisão de se tornar carmelita leigo, a mesma a quem    tomaria por patronesse ao assumir uma cadeira na Academia Brasileira de Hagiologia:

Jovem santa da alegria/Amante da Eucaristia/Da juventude modelo e Guia  Do Chile a primeira flor/Testemunho alegre na dor/Louca de amor pelo Amor  Dezenove anos de idade/De amor, de docilidade/Alegre testemunha da caridade  Pequena Juanita, descalça carmelita/Curta vida intensamente vivida/Hóstia imaculada oferecida  De todas as coisas despojada/Na primavera da vida, arrebatada/Uma jovem por Deus apaixonada   

Outras santas carmelitas também mereceram as loas do poeta, como acontece no poema Teresas do Carmelo, em que homenageia Santa Teresa de Jesus, Santa Teresa de Lisieux,  Santa Teresa Benedita da Cruz e Santa Teresa de Los Andes.

Em Rainha do Carmelo, por sua vez, presta uma homenagem a Nossa Senhora do Carmo, patrona dos Carmelitas. Ao longo das quatro estrofes que compõem o poema, pede à Santa Mãe proteção para os frades, as monjas e, ao final, para os leigos:

Oh, Rainha do Carmelo,/intercedei pelos leigos,/que na vida secular,/enfrentam muitos percalços.

São José, patrono do Carmelo, santo que teve em Santa Teresa d´Ávila uma de suas mais entusiastas devotas, tendo-lhe, inclusive, dedicado o primeiro mosteiro das descalças por ela fundado, também mereceu do jovem poeta versos nos quais enaltece o Homem justo,/servo fiel,/pai provedor/e defensor.

Luciano Dídimo

Luciano Dídimo Camurça Vieira, além de membro da Comunidade Rainha do Carmelo – da OCDS–Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares da Província de São José, onde exerce atualmente o cargo de Conselheiro Provincial OCDS para as Regiões Norte e Nordeste -, é também servidor público federal concursado em 1990, exercendo o cargo de analista judiciário no Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região. Concluiu os cursos de graduação em Administração de Empresas na Universidade Estadual do Ceará em 1995, em Direito na Universidade de Fortaleza em 2006 e de pós-graduação em Direito e Processo do Trabalho pela UNIDERP – Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal em 2007. É, ainda, membro da Academia Brasileira de Hagiologia.

Além das poesias, despertaram-me especial interesse durante a leitura de O meu Carmelo é marrom os três Pai-Nossos com que Luciano Dídimo conclui o seu livro de poemas inspirados na mística e carisma carmelitas. Depois de dividir a oração do Pai-Nosso em sete partes, pospõe a cada uma delas uma reflexão de acordo com o tema definido inicialmente.

Ao primeiro o autor intitulou O Pai-Nosso e a paternidade de São José; ao segundo, O Pai-Nosso e as sete dores e os sete gozos de São José, e, ao terceiro, atribuiu o título de O Pai-Nosso e princípios da vida carmelita. Transcrevo, a seguir, este último.

O Pai-Nosso e princípios da vida carmelita.

PAI NOSSO QUE ESTAIS NOS CÉUS. 1. SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME. Ser diligente na meditação e lei do Senhor. 2. VENHA A NÓS O VOSSO REINO. Participar na liturgia da Igreja, tanto na Eucaristia como na Liturgia das Horas. 3. SEJA FEITA A VOSSA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU. Viver em obséquio de Jesus Cristo, servindo à Igreja. 4. O PÃO NOSSO DE CADA DIA NOS DAI HOJE. Dar tempo à leitura espiritual. 5. PERDOAI-NOS AS NOSSAS OFENSAS ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS A QUEM NOS TEM OFENDIDO. Interessar-se pelas necessidades e o bem dos demais na comunidade. 6. E NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO. Usar prudente discrição em tudo que fazemos. Aprofundar o compromisso cristão recebido no batismo debaixo da proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo. 7. MAS LIVRAI-NOS DO MAL. Armar-se com a prática das virtudes ao mesmo tempo que se vive uma vida intensa de fé, esperança e caridade. AMÉM

Num dos poemas de que mais gostei, A missão do carmelita secular, Luciano Dídimo atribui ao leigo carmelita, em inspirados versos, a função de garimpeiro do verbo:

Garimpeiro do Verbo/o leigo carmelita/anuncia o Evangelho/com a sua própria vida  Apóstolo de Cristo/das sementes, o plantador/jardineiro missionário,/do pomar, o regador  Afinal, quem somos nós? Somos cartas de amor/enviados por Deus/para o mundo de dor.

Como leigo carmelita, o autor desponta como um destes garimpeiros a que ele próprio se refere em seus versos. Não tenho dúvidas em afirmar que da garimpagem resultante do encontro entre o seu itinerário espiritual pela senda carmelita com o talento poético que já começa a se revelar, Luciano Dídimo há de trazer à tona belas e preciosas pepitas de ouro do maior quilate.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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