Nos dias de hoje, a sincronicidade tem sido cada vez mais considerada um aspecto instigante da vida, mas de difícil explicação. Para mim, trata-se de uma curiosidade fascinante. Minhas experiências sincronísticas, e as de outros que as compartilharam comigo, me convenceram de que estamos lidando com algo muito maior e mais estranho do que podemos entender neste momento. Mais estranho do que podemos imaginar – talvez até mesmo mais estranho do que nossa mente possa alcançar.

Jan Cederquist

[Cederquist, Jan. Coincidências existem?: casos e acasos incríveis na busca por resposta para a vida. Tradução de Renata Marcondes. – São Paulo: Editora Gente, 2011, p. 16.]

Na semana passada comentei aqui um livro que traz uma série de relatos de sincronicidades. O autor, porém, se limitou ao relato dos fatos, não se detendo em explicações. Hoje quero apresentar aos leitores um outro livro que, além de uma série de acontecimentos sincrônicos, como os intitula o autor, traz ainda reflexões e hipóteses sobre possíveis explicações para o fenômeno.

Trata-se do livro Coincidências existem?: casos e acasos incríveis na busca por respostas para a vida, de autoria de Jan Cederquist, publicado pela Editora Gente. Partindo do relato de diversos fatos acontecidos com ele próprio – “um turbilhão de sincronicidades” -, o autor vai entremeando às curiosas e surpreendentes histórias algumas digressões e hipóteses que poderiam explicar o estranho fenômeno da sincronicidade. Para tanto, se vale das mais recentes teorias da física, mas também recorre à psicologia, à filosofia, à parapsicologia e a até a autores como Lao Tsé, adentrando o domínio da espiritualidade.

Logo no início do livro, no capítulo 3, o autor faz uma instigante afirmação, que dá uma ideia do terreno por onde ele trafega em suas incursões pelo universo da sincronicidade:

É possível que o cérebro humano seja, com as partes mais profundas do oceano, o último território na Terra que ainda não foi explorado por completo. Talvez não esteja distante o momento em que perceberemos que a consciência humana é, dentre todas as questões, a mais importante e fundamental; que ela é muito mais do que um conjunto de processos mensuráveis no interior de nosso crânio. E que existe uma relação desconhecida, pelo menos até agora, entre mente e matéria – uma relação que pode não ser de aprisionamento, mesmo que se situe dentro dos limites de tempo e espaço (p. 40).

Essa última questão, a da nossa relação com as dimensões do tempo e do espaço, perpassa parte das discussões sobre o fenômeno. A propósito, escreve:

Em seu livro O efeito Isaías, Gregg Braden afirma que, em geral, compreendemos o tempo como linear e horizontal. Vemos o tempo como uma linha proveniente do passado, passando pelo presente, rumo ao futuro. Para mim, ela vai da esquerda para a direita.

No entanto, o tempo possui também uma dimensão vertical. Cada ponto, cada momento naquela linha horizontal, é cruzado por uma linha vertical que contém o potencial para todos os eventos imagináveis e inimagináveis. É possível que nosso estado emocional exerça influência na determinação daqueles que de fato ocorrerão na realidade espaço-tempo. Essa poderia ser uma explicação da razão pela qual algumas pessoas parecem possuir toda sorte, enquanto outras sentem-se constantemente assombradas pela má sorte (p. 201).

Jan Cederquist, o autor, foi um dos redatores publicitários mais bem-sucedidos da Suécia e um líder diferenciado na área da propaganda daquele país. Obteve destaque com vários prêmios que recebeu dentro e fora de seu país por sua criatividade. Além de suas atividades profissionais, sempre encontrou tempo para concentrar sua atenção em áreas pelas quais tinha profundo entusiasmo: filosofia, psicologia e questões espirituais. Deixou a indústria da propaganda em 1994 para se dedicar exclusivamente a escrever, e também para praticar jardinagem e tocar jazz em seu contrabaixo. Ele faleceu em 2009. Era casado, tinha quatro filhos e vivia em Lindigo, uma ilha no subúrbio de Estocolmo.

Coincidências Existem?: casos e acasos incríveis na busca por respostas para a vida é um livro que se lê com imenso prazer, seja pelo relato dos curiosíssimos e surpreendentes casos narrados, seja pelo universo de explicações possíveis, o que faz ver o quanto temos ainda que avançar em termos de conhecimento da consciência humana. É, também, um convite para que se dê mais atenção às supostas coincidências para as quais nem sempre atentamos. Esse convite é patenteado pela citação de Agatha Christie, posta por Jan Cederquist na página que antecede o índice de seu livro:

“Sempre vale a pena”, disse a senhora Marple a si mesma, “prestar atenção em cada coincidência. Futuramente, pode-se descartá-la caso tenha sido mesmo apenas uma coincidência”.

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

View All Articles