Dom Helder Câmara, mudialmente conhecido por seu trabalho em prol dos pobres e desfavorecidos, foi também um místico. Admiro profundamente a figura de Dom Helder. Poucos, muito poucos mesmo, se equiparam a ele em estatura espiritual no Brasil. Mais conhecido por seu trabalho em prol dos pobres e desfavorecidos, muita gente desconhece, por isso, o lado místico de Dom Helder. A mística da ação, predominante em sua pessoa, ofuscou um pouco outra faceta de sua espiritualidade, qual seja, a de um homem profundamente devotado à oração e, em especial, à Virgem Maria, a quem dedicou alguns belos poemas. Aproveito para transcrever hoje, no Sincronicidade, um desses poemas, publicado no belo livrinho intitulado Rosas para meu Deus, organizado em 1996 pela Ir. Maria do Carmo Pimenta. A publicação foi uma homenagem ao Jubileu Sacerdotal de Dom Helder Câmara.

 

PRIMÍCIAS

        Dom Helder Câmara

Nossa Senhora das Rosas,
eu te ofereço
o primeiro botão
da minha roseira adolescente
– é belo e discreto
como um sorriso
em lábios amáveis e tímidos…

Nossa Senhora de Belém,
cercada de pastorinhos,
envolvida por ovelhas.
Se eu te der mais uma,
a primeira nascida de Confiança
– ovelha que Deus me deu -,
terás braços para recebê-la?

Nossa Senhora da Bela Oferenda,
meu trigal amadureceu ao Sol da Graça
e eu te fiz com as próprias mãos
uma hóstia sem mancha…

Na vinha de que sou guarda
e que pertence a Deus
rebentaram as primeiras uvas
que esmaguei no meu lagar
pra ter vinho do Senhor.

Nossa Senhora das Primícias,
recebe o primeiro vinho,
o primeiro trigo,
a primeira ovelha,
a primeira flor!

 

[Câmara, Helder. Rosas para meu Deus. Organização e seleção de textos Maria do Carmo Pimenta. – São Paulo: Paulinas, 1996, p. 6.]

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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