A geração que viveu com Jesus e a imediatamente seguinte conheceram e vivenciaram até o extremo o lado humano de Jesus. A sua humanidade impunha-se pela evidência dos fatos. Viram-no ou ouviram testemunhas imediatas do terrível da Paixão e morte, em que nada aparecia da face divina. Antes, pelo contrário, Jesus se mostra um largado e abandonado de Deus e do próprio poder que, em alguns momentos, manifestara. As provocações junto à cruz revelam essa tremenda tensão: “Os que passavam por ali o insultavam, balançando a cabeça e dizendo: “Ah! Tu que destróis o Templo e o reconstróis em três dias, salva-te a ti mesmo, descendo da cruz (Mc 15,29-30)”, e pela boca dos sumos sacerdotes: “A outros salvou, a si mesmo não pode salvar. O Messias, o rei de Israel, desça agora da cruz, para que vejamos e acreditemos (Mc 15,31s)!”. E ele mesmo revela, no Horto das Oliveiras, pavor, angústia, tristeza mortal, suor de sangue, necessidade da presença dos apóstolos, desejo de que o Pai lhe afaste o cálice (Mc 14,33-36; Lc 22,43), e na hora da morte, enorme abandono por parte de Deus (Mc 15,34). Que prova necessitava para afirmar a extrema humanidade de Jesus até as raias da fraqueza? Paulo, retomando um hino anterior, expressa tal evidência dizendo que ele renunciara a maneira divina de andar entre nós e assumira a forma de escravo, tornando-se igual ao ser humano (Fl 2,6-7).

J. B. Libanio . Carlos Cunha

[Libanio, J. B. Linguagens sobre Jesus: as linguagens tradicional, neotradicional pós-moderna, carismática, espírita e neopentecostal / J.B.Libanio, Carlos Cunha. – São Paulo: Paulus, 2011, p. 27. = (Coleção Temas bíblicos; vol. 1)]

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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