Indo adiante, viu Jesus um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: “Segue-me”. Este, levantando-se, o seguiu.

Mateus, 9,9

Há uma semana vinha me preparando para este dia, este belo e significativo dia, 21 de setembro de 2012 (21.9.2012). Um dia especialmente propício e auspicioso à consagração de uma experiência, de um objetivo, de um itinerário, enfim, de um Projeto de Vida. Aliás, mais que um projeto, seria melhor dizer um Programa de Vida.

Para quem optou por uma perspectiva cristã, ou, de forma ainda mais específica, Católica, como é o meu caso, a data reveste-se de um simbolismo todo especial pelo fato de, hoje, a Igreja celebrar a Festa de São Mateus, o apóstolo evangelista. O episódio da conversão de São Mateus, conforme relatado por ele próprio no Evangelho que leva o seu nome, é, para mim, um dos mais belos dentre os eventos bíblicos referentes ao chamado dos doze primeiros apóstolos que seguiriam a Jesus Cristo.

Esse fascínio se deve a diversos aspectos, dentre os quais eu destacaria dois. Primeiro, e talvez o mais importante, a rapidez e prontidão com que Mateus diz sim ao chamado, não vacilando em atendê-lo por um segundo sequer. Sua adesão ao chamado de Cristo foi imediata.

Segundo, o fato de ser ele um publicano. Ao momento em que Jesus o chama, segue-se o relato de uma refeição em sua casa, na qual, a ele e o Mestre juntam-se muitos outros publicanos e pecadores. O fato é visto pelos fariseus como um escândalo desproporcional e inadmissível. Imagine, sentar-se à mesa com a ralé da sociedade!

Mas é exatamente a esta ralé que o Mestre dirige suas atenções, pois, conforme ele próprio afirma, de acordo com o relato de Mateus, “Não são os que têm saúde que precisam de médicos, e sim os doentes” (Mt 9,12).

Vejo nestas palavras uma promessa de grandes proporções, posto que aí esteja contido um convite que a ninguém exclui, um convite para que cada pessoa, independente de o quanto se considere indigno e pecador, sinta-se à vontade para seguir a Cristo e fazer-se, assim como aconteceu com Mateus, mais um apóstolo e disseminador dessa mensagem que só fala de amor e misericórdia: “Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não o sacrifício. Com efeito, eu não vim chamar justos, mas pecadores”.

A propósito do episódio bíblico do Chamado de Mateus, cujo sim converte o publicano em Apóstolo de Cristo, Santo Ambrósio escreveu um belo texto – que pode, de fato, ser considerado uma autêntica oração -, abaixo transcrito:

Vós, ó Cristo, não restaurais o velho homem, mas criais o novo… E, sendo este nova criatura, vos oferece um banquete, para vos alegrardes com ele e para ter sua parte de felicidade convosco. Imediatamente vos segue cheio de júbilo, de entusiasmo, dizendo-vos: Publicano, já não sou… Despojei-me de Levi, para me revestir de vós.

Também eu quero, com ele, abandonar minha antiga vida e seguir-vos a vós só, Senhor Jesus, que minhas feridas curais! Quem poderá separar-me do amor de Deus que está em vós?… Ligado estou à fé, como que cravado nela, preso estou pelos sagrados vínculos do amor. Como cautério serão, para mim, todos os vossos mandamentos que trarei, sempre, sobre mim… dolorosa é a medicação, mas tira a infecção da chaga. Tirai, portanto, Senhor Jesus… a podridão de meus pecados e conservai-me unido a vós pelos vínculos do amor! Cortai tudo que está infeccionado. Vinde, já, destruir as paixões ocultas, secretas, variadas; cortai o mal, para que não se propague por todo o corpo…

Encontrei um médico que habita no céu, mas distribui seus medicamentos na terra. Minhas feridas só ele pode curar, pois não as tem em si. Do meu coração pode tirar a dor; da alma, o pavor, porque as coisas mais ocultas conhece.

[Santo Ambrósio. Comentário ao Evangelho de S. Lucas 15,27. Citado em: Gabriel de Sta. Mª Madalena, O.C.D. Intimidade Divina. – 5ª. ed. – Revisão: Silvana Cobucci e Paulo César de Oliveira. São Paulo: Loyola, 2010, p. 615.]

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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