Sentindo Francisco, o servo de Cristo, que de corpo estava distante do Senhor (cf. 2Cor 5,6), como já se tornara exteriormente todo insensível aos desejos terrenos pela caridade de Cristo (cf. 2Cor 5,14), para não ficar sem a consolação do Amado, rezando sem interrupção (cf. 1Ts 5,17), empenhava-se por manter o espírito na presença de Deus. Na verdade, a oração era um conforto para aquele que contemplava, enquanto – tendo-se tornado já concidadão dos anjos no circuito das mansões do alto – com fervoroso desejo procurava o Amado (Ct 3,1-2), de quem apenas a parede da carne o separava. [A oração] era também uma proteção para aquele que agia, enquanto em tudo o que fazia – desconfiando de sua própria capacidade e confiando na piedade do alto – pela perseverança nela lançava todo seu pensamento (cf. Sl 54,23) no Senhor. – Asseverava com firmeza que a graça da oração deve ser desejada pelo homem religioso acima de todas as coisas e, crendo que ninguém sem ela prospera no serviço de Deus, com todos os modos possíveis, estimulava seus irmãos ao empenho dela. Pois, andando e sentando-se, dentro e fora [de casa], trabalhando e descansando, estava voltado para a oração, de modo que parecia ter-lhe dedicado não só o que nele havia de coração e de corpo, mas também de ação e de tempo.

São Boaventura

[São Boaventura. Legenda maior de São Francisco. Fontes Franciscanas e Clarianas. Apresentação Sergio M. Dal Moro; tradução Celso Márcio Teixeira… [et. al.]. 2ª. ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2008, p. 615.]

Hoje celebra-se a festa de São Francisco. Ele e santa Teresa d`Ávila são os dois santos por quem tenho maior devoção. Vejo na mensagem deles um itinerário seguro para quem quer seguir um projeto de vida espiritual nas perspectiva católica. Ambos atribuem um valor muito especial à oração como método para a realização mais perfeita e plena da união com Deus. Ao fazê-lo, o fazem com conhecimento de causa, pois levaram a prática da oração às últimas consequências, atingindo o nível máximo de perfeição e profundidade a que uma pessoa pode chegar.

Há muitos anos estudo as obras de Santa Teresa d´Ávila assim como os escritos e biografias de São Francisco de Assis. A cada leitura, uma nova descoberta, um nível maior de aprofundamento me são proporcionados. Paralelo a isso, devo salientar o incentivo e encorajamento que encontro neles, seja por suas palavras, seja por seu exemplo. Arriscaria dizer que, se até hoje não desisti ainda desse caminho, credito minha persistência a três importantíssimos intercessores, exemplos paradigmáticos de quem confiou totalmente na oração como caminho seguro para Deus: São Francisco de Assis, Santa Teresa d´Àvila e a Virgem Maria.

Cada vez que tropecei, em cada momento que vacilei e olhei para trás, nas muitas ocasiões em que me senti tentado a desistir, foram eles meus três grandes incentivadores a prosseguir com esperança.

Recentemente, uma quarta figura veio se somar a esses três, servindo-me como incentivo também o seu exemplo de homem totalmente ancorado na oração, a ponto de, mesmo nos maiores reveses, nunca desistir do ousado projeto que traçou para a sua vida: Dom Hélder Câmara. Em diversas ocasiões, Dom Hélder tem sido para mim o exemplo maior do homem esperançoso, e, nesse aspecto, tenho recorrido muitas vezes a ele na tentativa de manter acesa em mim a chama da esperança, quando o caminho me parece obscuro e íngreme, e sinto a tentação de desistir. Ele também ancorou todo o seu projeto na experiência da oração e numa profunda devoção a Nossa Senhora.

Não desistamos do grande projeto de realização de uma experiência espiritual profunda. Temos um grande e poderoso Mestre, Jesus Cristo; temos um método, a oração; temos guias muito seguros, São Francisco de Assis, Santa Teresa d´Ávila e Dom Hélder Câmara; temos, enfim, a melhor, mais amável e mais confiável de todas as intercessoras que pudéssemos almejar junto à Santíssima Trindade, a Virgem Maria. Eles nos garantem o seu apoio se nos dispusermos a seguir a sua orientação. Eia, pois, sigamos em frente, na certeza de que não estamos sozinhos nesta caminhada.

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

View All Articles