Grande conforto é encontrar ao longo do caminho espiritual – muitas vezes penoso e cheio de dificuldades – a suave figura da mãe. Junto dela tudo se torna mais fácil! O coração desanimado e cansado, agitado pelas tempestades encontra nova força, nova esperança e retoma com novo vigor a estrada.

[…]

A Bem-Aventurada Virgem, “invocada na Igreja com os títulos de Advogada, Auxiliadora, Protetora, Medianeira” (LG 62), vem ao nosso encontro para nos conduzir ao Filho, para nos facilitar o caminho da santidade, introduzindo-nos no segredo da própria vida interior e tornar-se assim, depois de Jesus e subordinadamente a ele, o caminho, o modelo e a norma de nossa vida.

Gabriel de Santa Maria Madalena, O.C.D.

[Gabriel de Sta. Mª Madalena, O.C.D. Intimidade Divina. – 5ª. ed. – Revisão: Silvana Cobucci e Paulo César de Oliveira. São Paulo: Loyola, 2010, p. 359.]

Muito tem sido escrito sobre o papel e o lugar de Maria na Igreja Católica. Essa é uma questão que tem, inclusive, em algumas ocasiões, sido motivo de polêmica e acaloradas discussões. Uma vez que não sou teólogo, não me arriscaria a entrar nessa polêmica. Como leigo e devoto, no entanto, me sinto bastante à vontade para falar, não exatamente do papel de Maria na Igreja, mas na vida do crente.

Que eu me lembre, Nossa Senhora é minha devoção mais antiga, cultivada desde a infância. Essa devoção persistiu ao longo da vida e creio que posso creditar a ela minha persistência na fé católica. O objetivo, a meta, é Jesus Cristo, disso não me resta qualquer dúvida, claro, do contrário, ser católico perderia toda razão de ser.

Para algumas pessoas, porém, dentre as quais me incluo, o trajeto que leva a essa meta suprema, digamos assim, exige a presença e a intercessão de mediadores. Há alguns santos da minha devoção a quem confiei essa mediação, inclusive tratei do assunto há poucos dias em ou outro texto. Maria, porém, merece algumas considerações à parte, em se tratando desses a quem elegi como mediadores.

Maria tem desempenhado na minha caminhada o papel da grande Medianeira. Para mim, ela é a figura paradigmática de todo aquele que crê. Sua vida, conforme relatam os Evangelhos, é o modelo por excelência da pessoa que acreditou na Palavra e levou a sério o Projeto de Deus. Ela foi a portadora do Verbo, mas, antes que este mesmo Verbo encarnasse, ela acreditou, ela disse o Sim definitivo a Deus e ao projeto em gestação por meio dele, o enviado do Pai. Ela é, portanto, o ente humano por intermédio de quem o divino se fez, também, humano.

Talvez seja esse o aspecto que torna Maria o modelo paradigmático da caminhada do homem ao encontro do divino. Ela acreditou que trazer o divino à dimensão humana era um projeto viável. E por sua aquiescência à promessa de que, por intermédio dela, se realizaria esse evento grandioso, ele de fato se concretizou.

Em nossa fragilidade e pequenez, sentimos Maria muito próxima. Por isso mesmo, podemos, sem medo de sermos decepcionados, elegê-la como paradigma. Sua resposta ao chamado é, de fato, o exemplo a ser seguido.  É essa certeza, pois, que alicerça e mantém a minha fé.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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