Jesus não só nos ensina a verdade, mas nos ajuda a aceitá-la. Todo mestre tem esse dever, mas só pode cumpri-lo exteriormente, procurando desembaraçar de erros a mente do aluno e apresentar-lhe a verdade de modo fácil e convincente. Jesus faz muito mais! Seu modo de agir é muito mais íntimo e profundo: é o único Mestre capaz de agir diretamente no espírito dos discípulos, na sua mente e vontade.

Jesus move interiormente o homem para aceitar seus ensinamentos e pô-los em prática. As verdades que ensina são mistérios divinos que superam a capacidade do intelecto humano. Para poder o homem admiti-los, precisa de nova luz, a luz sobrenatural da fé. Dom de Jesus e a fé, fruto de sua obra redentora: é ele “o autor e consumador da fé” (Hb 12,1), e assim como a mereceu, assim a infunde nos fiéis. Enquanto revela ao mundo as verdades eternas, infunde Jesus nos homens esta luz divina e a aumenta neles até dotá-los de ciência profunda, misteriosa, que dá a intuição, o sentido das realidades divinas.

De modo análogo, Cristo age na vontade do homem, infundindo nele a caridade sobrenatural, por meio da qual inclina-o a amar seu Salvador, a pôr em prática sua doutrina, a amar o Pai celeste e todos os irmãos. Enquanto instrui, acende Jesus nos fiéis o fogo do amor divino, exatamente como experimentaram os discípulos de Emaús, que diziam um ao outro: “Não nos ardia o coração no peito quando nos falava pelo caminho, enquanto nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32).

Gabriel de Santa Maria Madalena, O.C.D.

[Gabriel de Sta. Mª Madalena, O.C.D. Intimidade Divina. – 5ª. ed. – Revisão: Silvana Cobucci e Paulo César de Oliveira. São Paulo: Loyola, 2010, p.  475.]

Considero a figura de Jesus Cristo o maior mistério e a maior aventura a que alguém pode se dedicar. Provavelmente para pessoas de outros credos e culturas haja figuras igualmente fascinantes. Para um cristão, porém, nada, nem ninguém, se igualará a Cristo na dimensão do mistério e do fascínio que pode exercer sobre uma pessoa.

Simultaneamente a essa dimensão, digo, do mistério, Cristo aparece também como o grande Mestre, o Mestre por excelência. Depois que comecei a ler os místicos, aos poucos fui ganhando uma perspectiva diferente em relação a Cristo como Mestre. Principalmente pela leitura das Obras Completas de Santa Teresa d`Ávila.

Santa Teresa mostra em seus escritos que Cristo tanto pode se fazer escutar exteriormente quanto interiormente. Ela defende a tese de que, por meio da oração profunda, podemos desenvolver uma relação de tal intimidade com Cristo que ele passa a nos falar interiormente.

Acredito hoje que esse Cristo que fala ao interior do ser humano é o que deve ser buscado, com todo o empenho, por intermédio da prática diária e sistemática da oração.

Evidentemente esse é um projeto para uma vida inteira, que exige paciência, persistência, determinação e, mais que qualquer outra coisa, fé. É um projeto, porém, fascinante. Foi por esse motivo que afirmei que Cristo é a maior aventura a que alguém pode se lançar. Inclusive porque uma das consequências dela, talvez a mais importante, é a grande transformação que Ele é capaz de realizar em cada um daqueles que O buscam com determinação. Quando Ele fala, produz já neste falar transformações de grande amplitude.

Nesse caso, devo dizer que não se trata de ver para crer, mas de crer para ver. Quem duvidar, que se aventure e tire suas próprias conclusões.

 

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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