O fato de que a assunção da figura messiânica do poderoso filho de Davi está unida à exigência de reconhecê-lo em sua humildade e com a necessidade de se disponibilizar para a aceitação de uma perspectiva messiânica diversa daquela puramente exterior, importa em um convite para se aproximar dele essencialmente por uma atitude de fé. E é isso que, muitas vezes, ele propõe explicitamente, como condição prévia para que se possa tirar proveito de sua obra salvífica, manifesta em seus milagres. Além disso, somente no mais íntimo do espírito humano é que seu poder messiânico, de modo especial, deverá agir, isto é, na cura espiritual do pecado. Se os escribas se mostram escandalizados quando ele proclama ao paralítico o perdão de seus pecados, o paralítico e seus corajosos carregadores que, por causa da multidão, não podendo entrar na casa onde Jesus estava, haviam-no introduzido pelo teto, ficaram desconcertados quando Jesus os atendeu, mas transferindo seu pedido de salvação para o campo da vida moral do espírito. É que, para Jesus, a chegada do Reino muda profundamente a condição humana, e não só os aspectos sociais e políticos da sociedade de seu tempo, por mais dramáticos e importantes que se mostrem. A conversão exigida para se acolher o Reino que chega consiste essencialmente em uma adesão plena e total do homem a sua obra e a sua pessoa, sendo por isso que nenhuma coisa no mundo, nem mesmo os valores ligados aos afetos familiares mais puros e mais profundos, pode ser anteposta à decisão de segui-lo, buscando-se apenas a própria salvação.

Severino Dianich e Serena Noceti

[Dianich, Severino; Noceti, Serena. Tratado sobre a Igreja. – Tradução Ubenai Fleuri. – Aparecida, SP: Editora Santuário, 2007, p. 131.] 

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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