Mestre é mais que um professor, um doutor e um técnico. É a pessoa que atingiu tal grau de perfeição, que sua técnica virou arte e ele se tornou um mestre: mestre em falar, em escrever, em pintar, em curar, em jogar futebol, em aconselhar e em consolar. O mestre não apenas ensina. Vive o que ensina. Sua vida é testemunho de suas ideias. Por isso, chamam-se de mestres os fundadores e os representantes mais preeminentes das tradições espirituais do cristianismo, do budismo, do hinduísmo e de outras denominações. Estas tradições mantêm-se vivas porque podem produzir outros mestres que galvanizam seguidores, os discípulos.

Inúmeras vezes nos evangelhos Jesus é chamado de Mestre e invocado na tradição cristão como Divino Mestre. Ele se insere não apenas na tradição dos mestres de seu povo, mas também dentro da grande tradição dos mestres da humanidade. Entretanto, sua grandeza não se faz diminuindo os outros, mas valorizando-os, prolongando sua missão e aprofundando seus ensinamentos. O Novo Testamento chama Jesus de “o Mestre” (cf. Mt 23,10) porque viu nele uma excepcional coerência e identificação entre o que ensinava e pessoalmente vivia. Na acepção dos cristãos, Mestre assim só pode ser Deus mesmo!

Na compreensão contemporânea poderíamos dizer que Jesus, semelhante a outros mestres de religiões conhecidas, se transformou no arquétipo do Mestre. Nele há tanta excelência de doutrina, tanta coerência entre o que fala e o que vive, tanta irradiação de luz, que se transformou numa figura exemplar e numa referência universal.

O arquétipo nunca é algo inerte. Vive ligado sempre a experiências profundas de valor e de sentido plenificador. Encontrar-se com Jesus-arquétipo é entabular um diálogo vivo com ele, a partir de nossa profundidade onde ele se manifesta como Mestre. É ouvir sua mensagem que se atualiza quando confrontada com as questões vividas pessoalmente ou que irrompem da realidade circundante. É colocar-se aos pés de Jesus, como o fizeram seus apóstolos e suas amigas, as irmãs Marta e Maria.

Leonardo Boff

[Boff, Leonardo. A oração de São Francisco: uma mensagem de paz para o mundo atual. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. p. 115.]

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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