A opção TerraEm razão desta nova consciência falamos do princípio Terra. Ele funda uma nova radicalidade. Cada saber, cada instituição, cada tradição espiritual e religiosa e cada pessoa deve fazer essa pergunta: que faço eu para preservar a pátria comum, a Terra, e garantir que ela tenha futuro, já que há 13,7 bilhões de anos está sendo construída e merece continuar a existir? Em que colaboro para que a Humanidade possa continuar a viver, a se desenvolver e realizar seu projeto planetário? Está aí o sentido de nosso trabalho: Opção-Terra.

Leonardo Boff

[Boff, Leonardo. A opção-Terra: a solução para a Terra não cai do céu. – Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 13.]

Há alguns anos o teólogo brasileiro Leonardo Boff tem dedicado especial atenção a questões ecológicas, com diversos livros publicados sobre o assunto. Um dessas livros, que tenho lido com enorme prazer, é A opção-Terra: a solução para a Terra não cai do céu. Dividido em dez capítulos, o autor inicia por uma Biografia da Terra, pois, segundo ele, “A grande maioria da Humanidade não conhece a história da Casa na qual habita, a Terra” (p. 19). Nos capítulos seguintes, fala das transformações pelas quais tem passado o Planeta, da degradação a que o temos submetido e da responsabilidade de cada um de nós em face da situação em que ele se encontra.   

Ao comentar a Carta da Terra, documento longamente gestado e ratificado pela UNESCO em 2000, no qual são assentadas algumas diretrizes com vistas à preservação do Planeta, escreve:

O desafio que a situação atual do mundo nos impõe, especialmente após a constatação do aquecimento global e das mudanças climáticas irrefreáveis, é, segundo a Carta: “Ou formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros ou então arriscar a nossa destruição e a devastação da diversidade da vida” (p. 198).

Em face desse apelo, dois princípios são postulados:

“Dois princípios visam viabilizar essa aliança: a sustentabilidade e o cuidado. A sustentabilidade se alcança quando usamos com racionalidade os recursos naturais, em harmonia com a lógica da vida e com solidariedade face às futuras gerações. E o cuidado é um comportamento benevolente, respeitoso e não agressivo para com a natureza, que permite regenerar o devastado e zelar por aquilo que ainda resta da natureza, da qual somos parte e com um destino comum” (p. 198).

Lembra Leonardo Boff que a Terra merece e deve ser cuidada por ser ela a nossa grande Mãe:

“A Terra, entretanto, não pode ser rebaixada a um conjunto de recursos naturais e de serviço ou a um reservatório físico-químico de matérias-primas. Ela possui sua identidade e autonomia como um organismo extremamente dinâmico e complexo. Ela, fundamentalmente, se apresenta como a grande Mãe que nos nutre e nos carrega” (P. 137).

Por fim, adverte-nos de que a Terra e nós somos um, premissa que jamais deveríamos olvidar:

“O poeta e cantor brasileiro Milton Nascimento cantava numa de suas canções: Há que se cuidar do broto para que a vida nos dê flor e fruto. Isso se aplica à Terra e a todos os ecossistemas: há que se cuidar, com compreensão, compaixão e amor, da Terra, entendida como Gaia, para que ela possa assegurar sua vitalidade, integridade e beleza. Terra e Humanidade formam uma única entidade, com uma mesma origem e um mesmo destino. Só o cuidado garantirá a sustentabilidade do sistema-Terra com todos os seres da comunidade de vida entre os quais se encontra o ser humano, um elo entre outros, desta imensa corrente de vida” (p. 198).

About the Author

Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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