À escala da Terra qualquer um pode escrever. Mas eu, eu não sou qualquer um!

G. I. Gurdjieff

[Gurdjieff, George Ivanovitch. Relatos de Belzebu a seu neto: Crítica Objetivamente Imparcial da Vida dos Homens: Do Todo e De Todo – Primeira Série. Tradução: Lea P. Zylberlicht com a ajuda de Gian B. Grosso e outros. São Paulo: Horus, 2003, p. 49.]

Tenho lido Gurdjieff. O livro “Relatos de Belzebu a seu Neto” tinha sido adquirido há mais de um ano.  Por mais de uma vez tinha folheado aleatoriamente algumas páginas, sem, no entanto, que tivesse ainda me decidido a iniciar de vez a leitura. Agora o faço, motivado por um sonho tido na madrugada do dia sete de junho último, data a partir da qual iniciei a leitura sistemática da obra.

No sonho havia uma referência clara ao Nigredo, a primeira fase da Iniciação Alquímica. Essa iniciação é constituída por quatro etapas sucessivas: Nigredo: a morte espiritual; Albedo: purificação; Citrinitas: despertar; Rubedo: Iluminação.

Arte iniciática muito antiga, pode parecer anacrônico falar de Alquimia em pleno século XXI. Entretanto, se considerarmos que, vez por outra, acontece de uma pessoa ter um sonho em que aparece uma referência clara e inequívoca a ela, então talvez não se trate de anacronia. No caso do sonho que tive, tanto aparecia a palavra Nigredo quanto uma imagem simbolizando essa fase inicial do processo, quando o neófito começa a passar pela chamada morte espiritual. Sonhos desse tipo, explorados em profundidade pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung – que, inclusive, escreveu muito sobre a Alquimia – são um alerta de que alguma coisa muito importante está acontecendo a nível inconsciente, sendo necessário e urgente dar-lhe atenção.

Há diversas alternativas e possibilidades de explorar essas mensagens, vindas das profundezas de nosso psiquismo. Escrever é uma delas. Acontecem coisas muito curiosas a quem escreve. Uma delas é exatamente a manifestação de conteúdos dos quais não tínhamos até então consciência. No meu caso, isso acontece com muita frequência, bastando, para tanto, que eu me deixe conduzir pelo texto. É o que pretendo fazer nos próximos dias, motivado especialmente pela leitura do livro de Gurdjieff, acima mencionado.

Digo nos próximos dias, mas sei que essa é uma experiência que poderá durar bastante tempo, pois, quanto aos conteúdos inconscientes revelados durante um processo de iniciação, não se pode precisar antecipadamente de que natureza serão nem por que caminhos nos conduzirão. Assim sendo, também não é possível antecipar por quanto tempo permaneceremos neste caminho. Na verdade, este, em geral, é um processo longo e duradouro. Só o tempo dirá quando e aonde chegarei.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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