A personalidade, as atividades, as relações, a espiritualidade de Teresa também se refletem de maneira intensa e muito viva em sua correspondência. Conhecemos mais de quatrocentas e cinquenta de suas cartas ou fragmentos delas. Muitas escritas no corre-corre, cheias de repetições, de frases incompletas, numa forma sem rodeios, com palavras ou expressões figuradas ou pitorescas, essas cartas compõem o retrato mais vivo e natural de sua autora. As tonalidades que nelas se misturam, desde a reprimenda até a sedução, da confidência das doenças que a assaltam, das mil inquietações que deve enfrentar, das preocupações mais realistas às considerações mais elevadas sobre o ideal que a conduz, sobre a oração, o amor a Deus e ao próximo, tudo isso compõe o cenário concreto e o clima espiritual da experiência da madre de quem o leitor logo se torna um familiar.

Bernard Sesé

[Sesé, Bernard. Teresa de Ávila: mística e andarilha de Deus. Tradução Joana da Cruz. – 1ª ed. – São Paulo: Paulus, 2008, p. 132.- (Coleção luz do mundo)]

Há muitos anos tomei Santa Teresa D`Ávila como a minha Mestra de Oração. Este ano, porém, tenho estreitado muito os laços com a Mestra. Por ocasião de uma viagem a Recife, em abril, me deparei, em uma loja especializada em imagens religiosas, com uma belíssima imagem de Santa Teresa adornada com o capelo imposto aos que recebem o título de Doutor nas universidades. Fiquei fascinado pela imagem, uma representação da Mestra que nunca antes havia visto. Indaguei o preço, perguntei sobre a origem, mas acabei repondo-a na prateleira.

Depois que retornei a Fortaleza, a imagem não me saiu mais da mente. Pois bem, em setembro entrei em contato telefônico com a proprietária da loja e efetuei a aquisição, devendo a encomenda ser remetida pelos Correios. Ao recebê-la, alguns dias depois, contive a ansiedade e deixei para abrir a caixa somente dia 15 de outubro, data em que a festa de Santa Teresa é celebrada. Entretanto, não me sentindo preparado ainda para a ocasião, adiei por mais 15 dias o momento em que retiraria a imagem e a entronizaria no meu birô.

Depois de preparar o ambiente, abri a caixa e pus a imagem sobre o birô. Postei-me como quem recebe em sua casa uma Doutora versada no mais alto saber, a Mística. Desde então, todas as manhãs, depois que me ajoelho no genuflexório e faço minha oração inicial dirigida à Santíssima Trindade e à Virgem Maria, sento-me diante da imagem de Santa Teresa para a nossa conversa diária. Sim, porque minha oração a Santa Teresa tem sido um diálogo em que muito me tenho enriquecido e que tem me levado por caminhos maravilhosos e, amiúde, surpreendentes.

Começo pela oração do dia, conforme o livro do Pe. Jean Abiven, “Orar 15 dias com Teresa D`Àvila” (Ed. Santuário). Depois, vem a melhor parte, a conversa pessoal. Aí, solto o verbo e falo à Mestra de minhas dúvidas, inquietações, de assuntos importantes e – por que não? -, de trivialidades que nem caberiam tratar com uma Doutora, mas não me faço de rogado. Se sinto necessidade, falo, independente do assunto. E peço que ela me responda.

Para isso, tenho usado com frequência a parte de suas Obras Completas que contém sua correspondência. Faço a pergunta, coloco minha inquietação, minha dúvida, peço um conselho para uma decisão que estou precisando tomar, aí abro o livro aleatoriamente e leio a carta ali contida. Parto do pressuposto de que a carta obtida aleatoriamente é a resposta da Mestra à minha demanda. Tenho tido sempre o cuidado de anotar a questão proposta, além da data, hora e o trecho da carta que tomo como resposta. Registro tudo no meu Diário do Caminho. Muitas vezes anoto também à margem da página do próprio livro.

Tem sido uma experiência maravilhosa, que tem me conduzido por caminhos que eu jamais suspeitaria um dia trilhar. Nada disso acontece por mérito meu, mas unicamente pela infinita misericórdia de Deus, que houve por bem me pôr no caminho de uma Mestra tão sábia quanto compreensiva como somente Santa Teresa D`Ávila poderia ser.

Ela é, de fato, uma Doutora, que tem condescendido, por pura bondade, em orientar este insignificante e renitente devoto que tem a pretensão de, algum dia na vida, ser alçado à gloriosa categoria de discípulo.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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