Sois o divino Ressuscitado que vindes a mim, vós que, depois de terdes expiado o pecado com vossas dores, vencestes a morte com vosso triunfo e, enfim, para sempre glorioso, viveis pelo Pai. Vinde a mim para aniquilar a obra do demônio, para destruir o pecado e as minhas infidelidades! Vinde a mim, para aumentar o desapego de tudo o que não é Deus, vinde para tornar-me participante daquela superabundância de vida perfeita que emana agora de vossa santa humanidade. Cantarei então convosco cânticos de ação de graças ao Pai, que naquele dia de honra e de glória vos coroou como nossa cabeça.

C. Marmion, Cristo nos seus mistérios 15.

[Citado em: Gabriel de Sta. Mª Madalena, O.C.D. Intimidade Divina. – 5ª. ed. – Revisão: Silvana Cobucci e Paulo César de Oliveira. São Paulo: Loyola, 2010, p. 312.]

As festas do calendário litúrgico católico são todas lindas, por isso se torna difícil dizer qual a mais bela ou mais significativa. Na verdade, talvez a Festa da Ressurreição do Senhor, a Páscoa, seja a mais significativa. Entretanto, no conjunto, todas são igualmente importantes, pois concorrem para a celebração do grande Mistério da Encarnação, celebração esta que se dá ao longo de todo o ano litúrgico.

Em que pese o que disse acima, gostaria de salientar que a celebração de hoje me é particularmente simpática. Trata-se da Epifania do Senhor. A palavra epifania é de origem grega,Ἐπιφάνεια, e significa manifestação. Refere-se ao episódio da visita dos Magos do Oriente ao Menino Jesus, narrado no Evangelho de Mateus. O sentido da celebração é o da manifestação de Cristo ao mundo.  Eis o relato:

Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram magos do Oriente a Jerusalém, perguntando: “Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos sua estrela no Oriente e viemos homenageá-lo”. Ouvindo isso, o rei Herodes ficou alarmado e com ele toda Jerusalém. E, convocando todos os chefes dos sacerdotes e os escribas do povo, procurou saber deles onde havia de nascer o Cristo. Eles responderam: “Em Belém da Judéia, pois é isto que foi escrito pelo profeta:

E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és o menor entre os clãs de Judá, pois de ti sairá um chefe que apascentará Israel, o meu povo”.

Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e procurou certificar-se com eles a respeito do tempo em que a estrela tinha aparecido. E, enviando-os a Belém, disse-lhes: “Ide e procurai obter informações exatas a respeito do menino e, ao encontrá-lo, avisai-me, para que também eu vá homenageá-lo”. A essas palavras do rei, eles partiram. E eis que a estrela que eles tinham visto no céu surgir ia à frente deles até que parou sobre o lugar onde se encontrava o menino. Eles, revendo a estrela, alegraram-se imensamente. Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o homenagearam. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonho que não voltassem a Herodes, regressaram por outro caminho para a sua região (Mt 2, 1-12).

O episódio da epifania sempre me fascinou desde criança. Talvez por considerar  extraordinário o fato de três sábios deixarem seus afazeres e seus estudos para se deslocarem de sua terra, encetando uma longa viagem apenas para prestar homenagem a uma criança desconhecida.

Ora, ocorre que, por aquele ato, a tal criança se tornava, então, conhecida. Ali se revelava, diante de três sábios, aquele que viera ao mundo com a missão de redimir a humanidade e lhe proporcionar o acesso a grandes verdades, verdades essas de muito maior monta que aquelas a que, então, tiveram acesso os magos.

Pois sabe-se que os magos lidam com verdades ocultas e misteriosas. No episódio da gruta de Belém, no entanto, uma verdade bem mais misteriosa, maior que todas as verdades até então acessíveis ao homem, se fazia presente na Terra, com a encarnação do Verbo. Ali se manifestava não uma verdade, mas A Verdade.

Tenho ainda o que falar sobre o assunto, deixando para fazê-lo, porém, posteriormente, pois agora preciso parar para levar também minha pequena oferenda ao menino rei que hoje nos foi revelado.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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