Dirigimo-nos já, guiados pelo Espírito Santo, para o abrigado e tranquilo porto de uma fé segura. Como acontece muitas vezes, os que são balançados pelo mar agitado e pelo vento, ao aproximar-se do litoral, são impedidos e retardados por altíssimas ondas, mas, finalmente, são arremessados por um forte e terrível impulso das águas, para a conhecida e segura praia.

Santo Hilário de Poitiers

[Hilário, Santo, Bispo de Poitiers. Tratado sobre a Santíssima Trindade. Tradução Cristina Penna de Andrade. – São Paulo: Paulus, 2005, p. 453. – (Coleção patrística)]

Hoje a Igreja Católica celebra a memória de Santo Hilário de Poitiers. Eu não conhecia este santo. Ontem, pela primeira vez, tomei ciência de sua existência ao ver, na livraria Paulus, o livro de que tirei a epígrafe acima. Como o livro estivesse em uma prateleira alta, não cheguei nem mesmo a folheá-lo. Entretanto, o título foi suficiente para despertar em mim um interesse imediato. Não  me animei, porém, a adquiri-lo porque já havia gasto ontem mais do que pretendera inicialmente. Ocorre que, na madrugada de hoje, devido a um acontecimento sincrônico muito significativo, decidi que retornaria à livraria para efetuar a compra. Qual não foi, pois, minha surpresa, ao constatar, antes de sair de casa, que a festa do autor é celebrada exatamente hoje.

Gostei imensamente de saber que o autor “se converteu ao cristianismo após um acidentado percurso rumo à fé, que o levou da leitura dos filósofos neoplatônicos à meditação sobre as páginas da Bíblia”, conforme afirma Mario Sgarbossa em “Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente”. A breve biografia apresentada no início do “Tratado sobre a Santíssimia Trindade”, por sua vez, traz as seguintes informações:

“Santo Hilário, Bispo de Poitiers, Padre da Igreja, valoroso defensor da fé cristã contras as heresias no século IV, nasceu na Gália, ao que parece por volta de 320. A cronologia é um tanto incerta, mas sabe-se que por ocasião do concílio de Béziers (356) já era bispo na cidade de Poitiers. Acredita-se que tenha sido eleito bispo em 350, aproximadamente. Dispomos de poucas informações sobre sua vida. O mais provável é que se tenha convertido ao cristianismo já adulto, abraçando a fé com grande fervor. É o que dão a entender certas páginas de tom autobiográfico no início do tratado da Trindade. Foi casado, e, ao que parece, teve uma filha, Abra, a quem dirigiu uma epístola, Ad filiam Abram, sobre cuja autenticidade pairam dúvidas (p. 12).

O fato é que, desde meados do mês de dezembro passado, tenho lido bastante sobre o Espírito Santo. Diversos acontecimentos sincrônico me têm levado a isso. É natural, pois, que um livro que tem por título “Tratado sobre a Santíssima Trindade” me despertasse interesse imediato. Depois que saí da livraria, vinha tão feliz com a minha recente aquisição que caminhei até o estacionamento onde deixara o carro rezando um mistério para Santo Hilário. Eu sei que tudo o que tenho experimentado desde a madrugada de hoje até o momento em que redijo este texto tem um significado muito especial, que tem o sentido simbólico de confirmação do meu retorno à fé cristã, ou, para ser mais específico, à Igreja Católica, retorno este palmilhado de muitos percalços, dúvidas e retrocessos. Daí advém a importância atribuída por mim a essa grande sincronicidade, a aquisição do livro de um convertido exatamente no dia em que a Igreja celebra sua memória.

Deixo, à guisa de conclusão deste texto, palavras de Santo Hilário de Poitiers escritas na última parte da obra, para mim especialmente significativas:

“Enquanto estiver animado pelo Espírito que, por ti, me foi concedido, eu te confessarei, com todas as minhas forças, Pai santo e onipotente, como o Deus eterno e como o eterno Pai. Nunca me deixarei levar pela ímpia insensatez de querer julgar os mistérios da tua onipotência. Jamais permitirei que a fraqueza de meu espírito pretenda elevar-se acima da noção verdadeira da tua infinidade e da fé na tua eternidade, como me foram reveladas. Nunca afirmarei que possas ter existido sem tua Sabedoria, tua Força, teu Verbo, Deus Unigênito, meu Senhor Jesus Cristo. Que a palavra fraca e imperfeita de nossa natureza não prejudique meu pensamento a teu respeito, de tal modo que a indigência do meu falar faça calar a fé (p. 486).

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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