Há poucos meses, um colega de trabalho comentava comigo uma conversa com um amigo que se diz ateu convicto, ocasião em que este lhe confessara: “Por causa deste papa Francisco estou quase me convertendo ao catolicismo”. Embora isso tenha sido dito em tom de brincadeira, não deixa de ter certo fundo de verdade. É no mínimo curiosa a constatação de que o pontífice começa a tocar não apenas os católicos, mas até os que se dizem indiferentes ou mesmo avessos à religião.

A recente viagem do papa Francisco a três países da América Latina reacendeu o debate em tornou da figura do pontífice. Não por acaso, escolheu ele três dos países mais pobres do continente para visitar: Equador, Bolívia e Paraguai. Sua opção, parece-me, não deixa dúvidas quanto ao programa estabelecido para o seu pontificado. É clara sua opção preferencial pelos pobres e marginalizados. Não somente o discurso, mas a sua própria maneira de proceder tem deixado muito claro o rumo que ele pretende dar à atuação da Igreja.

Em consonância com esse projeto, outro está claramente em andamento. Refiro-me à grande transformação na burocracia e hierarquia do vaticano, o que tem provocado incômodo a muitos purpurados. Nesse aspecto, Francisco tem mostrado uma coerência admirável, afinal, uma Igreja que opta pelos pobres tem, necessariamente, que se colocar como exemplo.

Em ambos os aspectos, Francisco tem sido uma grande e benéfica novidade para o mundo católico. A propósito, Marco Politi, um dos maiores especialistas da atualidade em questões vaticanas, no livro de sua autoria Francisco entre os lobos: O segredo de uma revolução, escreve: “Dois Papas no vaticano. E no horizonte perfila-se um pontífice a prazo. O ano de 2013 pôs em marcha uma revolução imprevisível no mundo católico. Muda o perfil do papado e Francisco está a alterar o modelo da Igreja. O seu sucessor voltará provavelmente a viver nos apartamentos papais, mas não poderá continuar a apresentar-se com os mantos do passado. Sobretudo não poderá voltar a exercer um poder autoritário sem limites. O absolutismo imperial dos pontífices está irremediavelmente comprometido. O Papa Francisco apresentou-se ao mundo como discípulo de Jesus, e depois dele será difícil que um Papa possa ascender ao trono, com a pretensão de ser o plenipotenciário de Cristo” (Lisboa: Ed. Texto & Grafia, 2014, p. 233).

Sabia, pois, muito bem o que queria e pretendia este homem que, quando de sua escolha para o cargo de Sumo Pontífice da Igreja Católica, em 13 de março de 2013, ao ser indagado pelo cardeal Giovanni Battista Re se aceitava a eleição, respondeu com um claro sim, manifestando no ato o nome pelo qual queria, a partir de então, ser tratado: “Vocabor Franciscus in memoriam sancti Francisci di Assisi (tomarei o nome de Francisco em memória de São Francisco de Assis)”.

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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