É confortador para quem se propôs, ainda na juventude, dedicar-se ao serviço de seus semelhantes para, assim, servir melhor a Deus.  Este, o meu lema. Este, o meu programa de vida. Este, o motivo maior, a razão suprema de meu agir e do meu viver. Esta, a fonte de inspiração e consolação do apostolado a que me entrego, fazendo-me tudo para todos, para, por todos os meios, salvar alguns, como disse o apóstolo Paulo (1Cor 9,19-22). Assim, o ministério sacerdotal em mim tornou-se História.

Padre Joaquim Colaço Dourado

[Martins, Antonio Colaço; Lira, José Luís. Padre Dourado: uma Missão Divina. – Fortaleza: Ed. ABRHAGI, 2014, p. 145.]

Semana passada, a convite do amigo Roberto Gaspar, compareci à sessão da Academia Brasileira de Hagiologia – ABRAGHI, ocasião em que este foi empossado como novo presidente daquela agremiação. Finda a sessão, fui apresentado por outra acadêmica, a desembargadora Gisela Nunes da Costa, ao Professor Antonio Colaço Martins, também ocupante de uma Cadeira na ABRAGHI. Pouco depois fui agradavelmente surpreendido ao receber, das mãos deste último, um exemplar do livro Padre Dourado: uma Missão Divina, escrito por ele em coautoria com José Luís Lira, recém-eleito Presidente de Honra da ABRAGHI .

Eu não sabia da existência da publicação. Recebê-la foi para mim motivo de grande alegria, pois trata-se da biografia de uma pessoa por quem tenho muita estima, o Padre Dourado, a quem tive o privilégio de ter como supervisor de estágio em psicologia clínica, quando da minha formação em psicologia na Universidade Federal do Ceará  – UFC.

Tão logo cheguei em casa, tratei de dar uma folheada no livro. Pela capa já dava pra ver o esmero com que fora editado, impressão que se confirmaria à medida em que adentrava a publicação, explorando os títulos dos capítulos, lendo trechos até chegar à penúltima parte, em que é oferecida ao leitor uma vasta iconografia mostrando instantâneos da vida do biografado.

A beleza do texto revela-se logo no início, ao lermos o Prefácio escrito pelo Professor Antonio Colaço Martins.  Note-se, a propósito, a beleza poética do trecho em que fala do nascimento do Padre Dourado: “Para cada ser humano despontam milênios, aproximam-se os séculos, apresentam-se os anos, chega um certo dia, uma certa hora, um certo momento, um átimo em que soa uma badalada e cada um de nós sai da possibilidade de ser para a existência concreta. Como se diz, em boa filosofia, sai da metafísica, da possibilidade de ser, para se lançar nos braços da vida e no regaço da história. No caso do Padre Dourado, foi no dia 21 de julho de 1930”.

Resumidamente, são estes os traços biográficos mais gerais do Padre Joaquim Colaço Dourado. Foi ordenado sacerdote por Dom Antônio de Almeida Lustosa no dia 30 de novembro de 1958. De 1972 a 1977 cursou o Mestrado em Psicologia Clínica na Pontifícia Universidade Salesiana – UPS, em Roma. Foi professor titular da Faculdade de Filosofia de Fortaleza – FAFIFOR, professor da Universidade de Fortaleza – UNIFOR e do curso de psicologia da Universidade Federal do Ceará. Ocupou a cadeira de número 20 da Academia Brasileira de Hagiologia, cujo patrono, escolhido por ele mesmo, é São Paulo.

No início do ano 2000, contando já setenta anos de idade, resolve levar a cabo a construção de um templo dedicado a Nossa Senhora de Lourdes, nas Dunas. A propósito da motivação para a construção do templo, relata Padre Dourado: “Um dia, convalescendo de uma cirurgia, caminhando pela Avenida Santos Dumont, na direção do Centro para a Praia do Futuro, contemplando a paisagem das Dunas, tive uma imagem muito forte de uma igreja erguida naquela Colina” (p. 69). No dia 24 de maio do ano 2000 era realizada a cerimônia da bênção da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes. Em 2005, por sugestão do próprio Padre Dourado, o entorno da igreja passa a se chamar Bairro de Lourdes. O bairro tem a dimensão de 6km2 e aproximadamente 5.000 moradores.

Padre Dourado faleceu aos 10 minutos do dia 23 de março de 2014, poucos meses antes de completar 84 anos, depois de 72 dias de hospitalização.

Já quase finalizando esta breve resenha, que nem de longe faz jus à riqueza do livro, devo dizer que, tão logo iniciei a leitura de Padre Dourado: uma Missão Divina, não mais o larguei até que chegasse à última página, aliás, à contracapa, pois ainda lá o leitor é surpreendido com a reprodução fac-similar de algumas palavras escritas de próprio punho pelo biografado. Ao longo dos dois dias de leitura, me senti muito próximo do Padre Dourado. A todo momento parecia escutar sua voz, ainda ressoando na minha memória, lembrança do tempo em que o tive como professor e supervisor de estágio. Acompanhei passo a passo a história de uma vida feita de desafios, dificuldades e superação. A história de um homem que, pouco antes de sua ordenação sacerdotal, teve que se submeter a uma cirurgia em que lhe foi retirado um rim, depois do que os médicos lhe prognosticaram não mais que seis meses de vida. Apesar de ter que conviver pelo resto de seus dias com os percalços da insuficiência renal, viveria mais 56 anos, totalmente dedicado à Missão Divina que o Pai lhe confiara. Impressionante aquilo que a fé é capaz de operar quando se faz vida.

Há diversos trechos do livro que, seguramente, jamais esquecerei, como aquele em que Nazareno e Herbinni, membros da Pastoral dos Noivos, citam a seguinte frase, proferida pelo Padre Dourado: “Um casamento perfeito é apenas duas pessoas imperfeitas que se recusam a desistir um do outro” (p. 127). Uma maravilha! Uma premissa pra se refletir e guardar pela vida inteira.

Eu teria muito mais o que falar, mas paro por aqui, deixando aos leitores o prazer de descobrir no próprio livro a riqueza de uma vida feita toda ela de superação. Para concluir, transcrevo a bela oração de autoria do Padre Dourado, que ele rezava depois do Pai Nosso:

Proteção de todos os males (Após o Pai Nosso)

Sim, Senhor, livrai-nos a todos nós e a cada um de nós, em particular, de todos os males materiais e espirituais.  Guardai-nos também de todos os perigos dos ares, dos mares e da terra. Guardai-nos da violência das ruas, dos assaltos à mão armada e dos sequestros, para que de agora em diante, com a Vossa constante proteção, possamos aguardar a vinda de Cristo Salvador. Vosso é o reino, o poder e a glória! (p. 103).

 

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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