Mas o que muito em particular te aconselho é a oração de espírito e de coração e, sobretudo, a que se ocupa da vida e paixão de Nosso Senhor: contemplando-o, sempre de novo, pela meditação assídua, tua alma há de por fim encher-se dele e tu conformarás a tua vida interior e exterior com a sua. Ele é a luz do mundo; é nele, por Ele e para Ele que devemos ser iluminados. Ele é a árvore misteriosa do desejo de que fala a esposa nos Cantares. É a seus pés que temos que ir respirar este ar suavíssimo, quando o nosso coração se vai afrouxando pelo espírito do século. Ele é a cisterna de Jericó, essa nascente de água viva e pura; a ela cumpre chegarmo-nos muitas vezes, para lavar nossa alma de suas manchas. Os meninos, como é sabido, ouvem continuamente as suas mães falarem e, esforçando-se por balbuciar com elas, aprendem a falar a mesma língua; deste modo nós, unindo-nos com Nosso Senhor, pela meditação, e notando as suas palavras e ações, os seus sentimentos e inclinações, aprendemos por fim, com a sua graça, a falar com Ele, a agir com Ele, a julgar como Ele e amar como Ele. A Ele é preciso prendermo-nos, Filoteia, e crê-me que não podemos ir a Deus, o Pai, senão por esta porta que é Jesus Cristo, como Ele mesmo nos disse.

São Francisco de Sales

[São Francisco de Sales. Filoteia, ou, Introdução à vida devota. Traduzido por Frei João José P. de Castro. – Petróplois, RJ: Vozes, 2012, p. 89. (Vozes de Bolso).]

 

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Vasco Arruda

Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.

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